Shell projeta o maior navio do mundo

Shell projeta o maior navio do mundo

Embarcação terá 488 metros de comprimento, com estrutura para armazenar mais de 600 mil toneladas de gás natural liquefeito, três motores, mais de 3 mil quilômetros de cabos elétricos e ainda vai suportar tufões de categoria 5

Centenas de engenheiros uniram suas experiências e conhecimentos para projetar a maior instalação flutuante offshore do mundo. A Shell anuncia a construção do primeiro navio plataforma com tecnologia integrada para liquefação de gás natural, o Prelude Floating Liquefied Natural Gas (FLNG).

Segundo a empresa anglo-holandesa, o navio irá explorar campos de gás natural a 200 quilômetros da costa da Austrália e converter a substância para a forma líquida ainda em alto mar, dispensando o uso de gasodutos para conversão em unidades terrestres e posterior transporte.

A Shell informa que, quando concluído, o Prelude FLNG terá 488 metros de comprimento (equivalente a quatro estádios de futebol), 74 metros (240 pés) de largura e irá pesar mais de 600 mil toneladas quando estiver totalmente equipado e com seus tanques de cargas completos. A unidade dispõe ainda mais de três mil quilômetros de cabos elétricos, o que equivale à distância entre Barcelona e Moscou. De acordo com informações da companhia, foram gastas mais de 1,6 milhões de horas trabalhadas em pesquisas e diferentes opções de design para chegar a este tipo de projeto.

O megaprojeto contemplará o mais alto Turrent System, com 93 metros (305 pés) de altura torre, para suportar ventos muito fortes e ondas gigantes. Como as condições climáticas na costa da Austrália e Mar de Timor, não são muito agradáveis nas temporadas dos ciclones, o projeto foi desenvolvido para resistir os “tufões de categoria 5” (a mais alta categoria), e assim permanecer com segurança ancorado no mar.

Conforme informações da Shell, o projeto foi desenvolvido a partir de um sistema seguro que permite a possibilidade do navio girar lentamente no vento – absorvendo o impacto das condições meteorológicas fortes – mantendo o mesmo atracado ao longo do campo de gás.

A embarcação utilizará 6.700 propulsores para retirar 50 milhões de litros de água do oceano por hora para ajudar a resfriar o gás natural. Outro destaque do projeto será a planta de liquefação, que esta unidade terá no convés, pois o gás poderá ser comprimido 600 vezes, numa temperatura de refrigeração para -162° Celsius (-260 ° F) – dentro dos tanques o gás liquefeito irá ocupar 1/600 do volume natural. Com isso, uma grande quantidade de gás poderá ser armazenada nos tanques, e depois enviada aos navios LNG (gaseiros). Somente na construção do navio serão utilizadas mais de 260 mil toneladas de aço, isto é, cinco vezes a quantidade de aço consumido para levantar a ponte Harbour, em Sydney (Austrália).

A Shell informa ainda que, as soluções de engenharia desenvolvidas pela empresa evita o potencial impacto ambiental da construção e a operação de uma planta em terra, incluindo a colocação de dutos para a praia e expansão de outras obras de infraestrutura.

A Prelude está sendo fabricada no estaleiro Samsung Heavy Industries (SHI), localizado em Geoje, na Córeia do Sul. Pioneira na tecnologia FLGN, a Shell espera começar a produção já em 2016.

Em entrevista exclusiva ao SINCOMAM, o gerente de Tecnologia da Shell Brasil, João Mariano, revela os principais pontos deste novo conceito de FPSO, o processo de desenvolvimento e a importância dela para a produção de gás mundial.

“Num primeiro momento, a Prelude será empregada na Austrália. Nada impede, entretanto, que processos e tecnologias desenvolvidas durante a sua construção e operação sejam empregadas em outras partes do mundo em que a Shell opera, inclusive no Brasil”, diz Mariano.

Revista SINCOMAM – Por quais razões a Prelude FLNG é considerada uma potência na produção de gás natural?
João Mariano – A embarcação é a maior plataforma flutuante do mundo em razão de suas dimensões. Há alguns anos, a ideia de aproveitar os campos de gás em alto-mar, minimizar a grande distância da costa e solucionar a inviabilidade de instalação de infraestrutura de transporte via duto era perseguida pela indústria de óleo e gás.

Há quase uma década, a Shell estuda a alternativa de criar uma embarcação deste tipo. O fator que acelerou a decisão da companhia em avançar no projeto de um FLNG foi a descoberta de campos com uma grande quantidade de gás natural recuperável em alto-mar na Austrália.

Após dois anos de estudos de viabilidade e projeto básico, a Shell decidiu, em maio de 2011, construir o primeiro FLNG (Floating Liquified Natural Gas) da indústria, para aplicação nos campos australianos offshore. Esta verdadeira fábrica flutuante é capaz de tratar e liquefazer o gás produzido e transferi-lo para navios gaseiros, para posterior distribuição mundial.

Em dezembro de 2013, a Shell lançou ao mar o casco de 488 metros de comprimento (maior do que quatro campos de futebol) da instalação flutuante de gás natural liquefeito Prelude, fabricada no estaleiro da Samsung Heavy Industries – parceiro da Shell que apresentou as melhores condições para a execução do projeto.

R.S. –
Quais são os objetivos e expectativas com a construção desta embarcação?
Mariano – Uma vez terminada, a Prelude FLNG será a maior instalação flutuante já construída e irá desbloquear novas fontes de energia offshore, produzindo anualmente cerca de 3,6 milhões de toneladas de gás natural liquefeito (GNL) para atender à crescente demanda por energia do mercado mundial.

A embarcação permitirá à Shell produzir gás natural no mar, transformá-lo em gás natural liquefeito e depois transferi-lo diretamente para os navios que o transportarão para os clientes.

Ela irá possibilitar o desenvolvimento de recursos de gás que vão desde grupos de campos mais remotos, menores – mas com grande potencial de produção, até campos maiores, através de múltiplos locais onde, por uma série de razões, um desenvolvimento que transporte o gás até o continente não é viável. Isso pode significar estratégias de desenvolvimento e implantação mais rápidas, mais baratas e mais flexíveis para os recursos que antes eram economicamente inviáveis ou limitados por riscos técnicos.

R.S. – Depois de construída, qual será a capacidade da Prelude FLNG?
Mariano – A unidade apresenta um casco de 488 metros de comprimento, os tanques de armazenamentos da instalação estão no convés inferior. Eles podem acumular até 220.000 m3 de GNL, de 90.000 m 3 de GLP, e 126.000 m 3 de água de condensação.

A capacidade total de armazenamento de gás natural liquefeito é equivalente a cerca de 175 piscinas olímpicas. Uma vez concluída, a unidade FLNG vai pesar mais de 600 mil toneladas quando totalmente carregada, deslocando a mesma quantidade de água de seis dos maiores porta-aviões do mundo.

A Prelude deverá produzir 5,3 milhões de toneladas por ano (Mtpa) de líquidos; 3,6 milhões de toneladas por ano (Mtpa) de gás natural liquefeito (GNL), 1,3 Mtpa de condensado e 0,4 mtpa de gás liquefeito de petróleo (GLP).

R.S. – Quantos profissionais trabalham no projeto de instalação do navio?
Mariano – Mais de 600 engenheiros estiveram envolvidos apenas no design da plataforma. O projeto de construção irá gerar cerca de 350 empregos diretos e 650 posições de trabalho indireto.  

 R.S. – Como será composta a tripulação do Prelude?
Mariano – Esperamos que a tripulação da Prelude seja composta por aproximadamente 280 pessoas em períodos regulares de operação.  O número de técnicos a bordo pode aumentar em períodos de manutenção.  Este número não inclui pessoal em terra e equipes de apoio, que podem elevar essa contagem em até 650 pessoas.  Ainda é cedo para comentar sobre a identidade dos oficiais de comando da embarcação.

R.S. – É verdade que a estrutura produz gás natural suficiente para responder às necessidades energéticas de uma cidade como Hong Kong?
Mariano – Sim. Quando em operação, a produção de gás natural liquefeito da Prelude poderá atender a 117% da demanda anual de Hong Kong por este insumo. O navio irá operar em uma bacia remota, 475 quilômetros ao nordeste de Broome, na Austrália Ocidental, por cerca de 25 anos. Isso vai permitir o processamento e comercialização de uma significativa produção de gás natural na região.

R.S. – Como você pode afirmar que a embarcação foi construída de maneira a resistir a condições meteorológicas adversas, como tufões de categoria 5?
Mariano – A Prelude está sendo construída para suportar condições severas em alto mar. Enquanto a maior parte das embarcações oceânicas é projetada para voltar a um dique seco para manutenção a cada cinco anos, a Prelude deve passar 25 anos no mar sem parada em terra para manutenção.

Fonte: SINCOMAM / Margarida Putti