CONTAS EXTERNAS DO BRASIL TÊM O MAIOR ROMBO DESDE 1947

Resultado negativo registrado em 2014, de US$ 90,948 bilhões, ficou no topo das estimativas dos analistas de mercado

O déficit em conta corrente do Brasil em 2014 somou US$ 90,948 bilhões, o que representa 4,17% do Produto Interno Bruto (PIB) do País. Trata-se do maior rombo nas contas externas nacionais desde o início da série histórica, iniciada em 1947 – informou nesta sexta-feira, 23, o Banco Central (BC).

Vale destacar que esse resultado deficitário foi 50% maior do que o verificado em 2012, de US$ 54,246 bilhões, que até então era o pior desde 1947.

O resultado negativo ficou no topo das estimativas dos analistas de mercado consultados pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. As previsões variavam entre déficit de US$ 88,1 bilhões e US$ 90,9 bilhões.

Em 2014, o Investimento Estrangeiro Direto (IED) não cobriu o resultado negativo obtido pelo governo. Nos 12 meses de 2014 foram acumulados US$ 62,495 bilhões (2,87% do PIB). A diferença entre o déficit e o IED em 2014, portanto, ficou negativa em US$ 28,453 bilhões.

Em dezembro, o déficit registrado foi de US$ 10,317 bilhões. O IED no mês passado foi de US$ 6,650 bilhões.

Apontada como principal vilã das contas correntes em 2014, a balança comercial registrou um déficit de US$ 3,930 bilhões, enquanto a conta de serviços ficou negativa em US$ 48,667 bilhões. A conta de renda também ficou no vermelho, em US$ 40,2 bilhões.

Mesmo com a aceleração da cotação do dólar no segundo semestre do ano passado, a conta de viagens internacionais registrou um déficit de US$ 1,6 bilhão em dezembro de 2014 e um saldo negativo de US$ 18,695 bilhões no acumulado do ano. O resultado apurado em 2014 é um novo recorde, de acordo com os dados divulgados há pouco pelo Banco Central, já que a maior marca havia sido registrada em 2013, de US$ 18,632 bilhões.

O saldo negativo de dezembro do ano passado é resultado do volume de despesas pagas por brasileiros no exterior (US$ 2,124 bilhões) acima das receitas obtidas com turistas estrangeiros em passeio pelo Brasil (US$ 524 milhões). No acumulado do ano, as receitas passaram de US$ 6,710 bilhões em 2013 para US$ 6,914 bilhões no ano passado. As despesas, na mesma comparação, subiram de US$ 25,342 bilhões para US$ 25,608 bilhões.

Remessas de lucros e dividendos. O saldo de remessas de lucros e dividendos no ano passado ficou negativo em US$ 26,523 bilhões. O resultado é maior do que os US$ 26,045 bilhões de 2013. Como já havia indicado o resultado do fluxo cambial, no último mês de 2014, esse saldo ficou no vermelho em US$ 4,094 bilhões, um saldo negativo menor do que os US$ 4,829 bilhões, também negativos, registrados em dezembro de 2013.

O BC informou também que as despesas com juros externos somaram US$ 14,105 bilhões em 2014 ante US$ 14,244 bilhões de 2013. Só em dezembro, o resultado negativo foi de US$ 1,933 bilhões – ante US$ 2,711 bilhões no mesmo mês do ano anterior.

Dados do fluxo cambial já tinham registrado saídas líquidas de US$ 14,050 bilhões no último mês do ano passado – o maior para o mês da série histórica, iniciada em 1982. Até então, a quantidade de saídas mais elevadas no último mês de um ano havia sido em 2013, de US$ 8,780 bilhões. O fluxo negativo de dezembro também foi o maior desde setembro de 1998, quando ficou em US$ 18,919 bilhões.

É comum nos finais de ano haver uma ampliação de envios de lucros e dividendos de empresas instaladas no Brasil para suas matrizes no exterior. Por isso o BC forneceu leilões de linha (operações de venda com compromisso de recompra) ao longo do mês passado. Dentro do programa de leilões de swap cambial em 2015, confirmado até pelo menos o dia 31 de março, não há previsão de operações de linha dentro de uma rotina preestabelecida. O BC se comprometeu, no entanto, a atuar sempre que considerar necessário. 

Fonte: AE / Diário do Poder