QGI paralisa obras de plataformas e ameaça planos da Petrobras
O consórcio QGI Brasil, formado pela Queiroz Galvão e Iesa Óleo e Gás e dono do estaleiro Honório Bicalho, em Rio Grande (RS), suspendeu as obras de construção e integração dos módulos das plataformas P-75 e P-77. A decisão foi comunicada à Petrobras no dia 6 deste mês. Na semana passada, o consórcio enviou cartas aos seus fornecedores informando sobre a suspensão dos contratos para fornecimento de produtos e serviços relacionados às duas plataformas. O Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, apurou que os subfornecedores do projeto também tiveram seus contratos suspensos.
O rompimento do contrato reforça as incertezas sobre o cumprimento da curva de produção da estatal, que prevê atingir em 2018 uma produção de 3,2 milhões de barris diários de petróleo. Se optar por relicitar os serviços, a petroleira terá um prazo curto para recontratar a integração da P-75, prevista para entrar em operação já no ano que vem.
O Plano de Negócios 2014-2018 da Petrobras, que deve ser revisto para baixo este ano, prevê a entrada em operação da P-75 em 2016 e o início das atividades da P-77 em 2017. As duas unidades foram contratadas para produzir no campo de Búzios, na área da cessão onerosa, e têm capacidade para produzir, juntas, 300 mil barris/dia.
Segundo o Enseada Indústria Naval, contratado pela Petrobras para a conversão dos cascos das plataformas no estaleiro Inhaúma, as obras da P-75 fecharam 2014 com avanço físico de 84%. Já a conversão da P-77, transferida para a Cosco, na China, encerrou o ano com 78% das obras concluídas.
O consórcio não quis se pronunciar a respeito, mas a medida é uma tentativa do de forçar uma negociação depois que a Petrobras suspendeu a inclusão de aditivos nos contratos em função dos esquemas de corrupção flagrados pela Operação Lava-Jato. O contrato foi assinado em setembro de 2013.
As duas unidades custariam US$ 1,6 bilhão, incluindo os módulos construídos em Rio Grande e as conversões dos cascos de navios em plataformas. Até agora, porém, nenhuma plataforma foi construída pelo QGI, embora os primeiros materiais já tenham chegado ao estaleiro gaúcho. A expectativa da própria Petrobras é que as obras empregariam, no pico, 4,4 mil trabalhadores, mas até agora o consórcio contratou apenas 300 pessoas.
O Valor teve acesso à carta enviada pelo consórcio, na quinta-feira da semana passada, a um dos fornecedores pedindo a suspensão dos trabalhos decorrentes desse contrato até que o consórcio tenha novas informações sobre o caso. A QGI diz ainda ao fornecedor que já notificou a Petrobras sobre a decisão de rompimento, devido à violação do contrato.
O consórcio pede que o fornecedor a informe sobre tudo o que já foi produzido e pago pela contratante, até aquela data, para que possa dar continuidade às negociações com a petroleira, de forma a fazer a liquidação gradual do contrato.
Subfornecedores que fazem parte da cadeia da construção das plataformas também já foram notificados para interromperem as atividades e enviarem dados atualizados de produção e pagamentos para as contratantes.
O fim do contrato afeta desde multinacionais até empresas de médio porte. Segundo uma fonte do setor, diversos fabricantes de máquinas e equipamentos vêm relatando nos últimos dias aumento de casos com problemas nos contratos de obras de plataformas e navios sonda.
Além de problemas com a integração das plataformas da cessão onerosa, a Petrobras convive com incertezas envolvendo a execução das obras de construção dos FPSOs replicantes do pré-sal. O contrato com a Iesa para construção dos módulos de compressão de gás das plataformas, por exemplo, foi rescindido no ano passado e ainda está sendo relicitado pela Petrobras.
Já as obras de construção dos cascos e de integração das oito unidades estão sob responsabilidade de empresas que se encontram nos holofotes da Operação Lava-Jato, como Engevix, UTC, OAS e Mendes Jr.
Fonte: Valor Econômico/Sérgio Ruck Bueno, Victória Mantoan e André Ramalho | De Porto Alegre, São Paulo e do Rio