Câmara aprova mandato de cinco anos a partir de 2022 e mantém voto obrigatório nas eleições
Plenário rejeitou a coincidência de eleições; mudanças terão que ser aprovadas em mais um turno e outras duas vezes no Senado
Por 348 votos a favor e 110 contra, a Câmara aprovou nesta quarta-feira, em primeiro turno, o aumento de quatro para cinco anos dos mandatos do Executivo e do Legislativo. A medida atingiria a partir de 2022 o presidente da República, governadores, senadores e deputados. Pelo texto original aprovado, os prefeitos e vereadores já seriam afetados nas eleições de 2016. O aumento dos mandatos vem duas semanas após a Câmara aprovar, também em primeiro turno, o fim da reeleição para os cargos executivos. As mudanças terão que ser aprovadas em mais um turno na Câmara e outras duas vezes no Senado. No início da sessão desta quarta, a Câmara rejeitou o fim do voto obrigatório.
No fim da noite, a Câmara rejeitou a coincidência das eleições no país. A proposta de coincidir todas as as eleições de cargos eletivos – presidente e vice-presidente, governadores e vices, deputados federais, estaduais e distritais, senadores, prefeitos e vereadores – teve apoio de 220 deputados. Outros 225 deputados rejeitaram a proposta, além de três deputados que se abstiveram. Para ser aprovada, a emenda precisaria ter pelo menos 308 votos sim.
Por 419 votos a 8, os deputados determinaram em quatro anos os mandatos de prefeitos e vereadores eleitos em 2016. Dessa forma, o mandato de cinco anos valerá apenas a partir das eleições de 2020.
Como foi a votação que aumentou o mandato
A votação da emenda que aumentou os mandatos de Executivo e Legislativo teve o apoio da maioria dos partidos, mas provocou muita polêmica em plenário. Deputados do DEM, contrários ao aumento dos mandatos de quatro para cinco anos, criticaram a emenda e disseram que, da forma como estava redigida, poderia abrir brecha para a prorrogação de mandatos da presidente Dilma Rousseff, dos governadores e deputados eleitos no ano passado.
Embora a emenda afirme textualmente que o presidente da República, governadores, deputados federais e estaduais eleitos em 2018 terão mandatos de quatro anos, deputados consideraram pouco explícita a redação do texto. Prontamente, o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o relator da reforma política, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), se posicionaram reforçando que não valeria para os atuais mandatários.
De acordo com o texto, os únicos que já teriam os mandatos ampliados na próxima eleição seriam os senadores eleitos em 2018, que receberiam nove anos de mandato. Isso permitiria que a partir de 2027 todos os três senadores dos estados fossem eleitos no mesmo ano para mandatos de cinco anos — contra os oito anos atuais. A mudança no mandato deles, no entanto, deve enfrentar fortes resistências no Senado.
Crítico ao aumento dos mandatos, o deputado Sandro Alex (PPS-PR) disse que o que ficaria da reforma política seria o aumento dos mandatos dos próprios deputados:
— Estamos legislando em causa própria. Não é possível que o único projeto aprovado seja o aumento do mandato — disse o deputado do PPS.
Com o apoio de 311 deputados, a Câmara rejeitou a adoção do voto facultativo no Brasil. A proposta que tornava opcional o voto do eleitor contou apenas com 134 votos favoráveis, menos da metade do necessário. Pesquisa Datafolha de maio do ano passado mostrava que seis em cada 10 brasileiros eram favoráveis ao voto facultativo.
Como a mudança não ocorreu, fica mantida a atual regra da Constituição Federal, que estabelece que o eleitor maior de 18 anos é obrigado a votar e fazer seu alistamento eleitoral, facultando-o apenas aos analfabetos, aos que têm mais de 70 anos e aos menores de 16 anos.
A maioria dos partidos encaminhou contrariamente ao voto facultativo. Apenas o DEM, o PPS e o PV encaminharam a favor e o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), decidiu liberar sua bancada.
— Eu sou a favor, mas a bancada estava dividida, por isso liberei. Para mim, o voto facultativo aproximaria o candidato do eleitor — disse Picciani.
— Tenho preocupação com o voto em locais com milícia e narcotráfico, mas hoje o voto no Brasil já é na prática facultativo, pois a multa é muito pequena. Sou a favor porque essa é a vontade da população — acrescentou o deputado Índio da Costa (PSD-RJ).
No plenário, deputados comentavam que o fim da obrigatoriedade iria encarecer muito o voto, com o candidato tendo que convencer o eleitor a ir votar. O líder do PSOL, Chico Alencar (RJ) disse que o partido entende que o voto é um direito, mas também um dever do cidadão. Ele lembrou que na época da República Velha, quando existia o voto de cabresto, o voto também era facultativo.
— O voto facultativo valoriza monetariamente o ato de votar, ainda mais em um sistema contaminado pela corrupção — disse Alencar.
O tucano Luiz Carlos Hauly (PR) disse que embora seja a favor da tese do voto facultativo, votou contra por entender que o Brasil ainda não é um país desenvolvido:
— Mesmo obrigado, os brasileiros não vão votar. O voto facultativo aumentará exponencialmente a influência do poder econômico nas eleições.
Fonte: o Globo / Isabel Braga