Crise política afasta investidores do setor portuário
A indefinição do cenário político brasileiro e a crise econômica já deixam as primeiras marcas no sistema portuário nacional. Predominantemente técnico, o setor enfrenta o desinteresse de investidores, tendo em vista a baixa procura dos últimos leilões para o arrendamento de áreas. Especialistas do setor não estão otimistas. O temor é de que os portos acabem perdendo competitividade e investimentos públicos, essenciais para o desenvolvimento do comércio exterior.
A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) anunciou, na semana passada, o adiamento do leilão de seis áreas portuárias no Pará. Nos bastidores, a informação era de que o baixo interesse de investidores havia provocado a decisão, tomada dois dias antes do certame. Oficialmente, problemas técnicos foram apontados para a não realização do evento.
O presidente da Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP), Wilen Manteli, aponta a política econômica do Governo como o principal motivo para a instabilidade dos investimentos. Para ele, a insegurança jurídica, as incertezas políticas e a inserção de cláusulas restringindo lucros ou atividades são fatores que afugentam investidores. “Essa situação pode retardar mais ainda as coisas, em um momento em que não se poderia perder tempo. Além disso, certamente perdemos competitividade no mercado, com obras de infraestrutura congeladas”.
Representantes da iniciativa privada temem que portos percam competitividade
Para o coordenador da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende, a situação ainda pode ter desdobramentos. “As consequências são três: queda no nível de investimento em infraestrutura, que historicamente já é baixo; deterioração da qualidade dos sistemas de infraestrutura, o que resulta em crescentes custos logísticos, inclusive com rebatimento no preço final dos produtos; e atrasos no suprimento de sistemas logísticos que não serão capazes de responder a uma retomada do crescimento quando ele vier”, explicou.
Resende considera que os impactos da crise política seriam maiores se a economia estivesse aquecida e o setor, com uma demanda ainda maior de investimentos. “Por um grande paradoxo, estamos evitando impactos maiores devido à recessão brasileira, que se associa ao caos político administrativo. Mas a continuidade de tal caos pode levar o País a perdas de competitividade que levaremos anos para reconquistar. E o Porto de Santos está no meio do furacão”.
O presidente da Federação Nacional dos Portuários (Fenop), Sérgio Aquino, aponta que o Governo perdeu as janelas de oportunidade de promover o setor. Segundo ele, isso começou com a promulgação do novo marco regulatório, a Lei nº 12.815, que trouxe um certo temor aos investidores.
“Os capitais (internacionais) disponíveis para financiamento de investimentos estão buscando e vendo outros países com maior estabilidade e previsão de futuro. O risco é o Brasil, quando conseguir equacionar esse embate político e econômico, perder essa janela”, afirmou.
O diretor-executivo do Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado de São Paulo (Sindamar), José Roque, aponta a perda de credibilidade do Governo e o risco da interrupção de importantes obras como o principal impacto da crise política nos portos. “Perde-se tempo e podemos perder competitividade. Não podemos ficar sem importantes investimentos em infraestrutura”.
Para o coordenador do Comitê dos Usuários dos Portos e Aeroportos do Estado de São Paulo (Comus), da Associação Comercial de São Paulo, José Cândido Senna, apesar dos atuais problemas, os portos brasileiros precisam se preparar para todos os cenários, especialmente para o pós-crise e a retomada do crescimento. “Devemos prosseguir com iniciativas de discussão do que o Porto precisa ter em termos de profundidade”, disse.
Fonte: A Tribuna