Perspectiva é de avanços no apoio marítimo, mas com desafios
Duas grandes empresas do segmento de apoio marítimo apostam num aquecimento ainda maior dos negócios a partir da possível adoção de uma política de conteúdo local, já sinalizada pelo governo. Mas, para isso, barreiras ainda devem ser vencidas, na opinião dos seus executivos. A norte-americana Edison Chouest Offshore e a norueguesa DOF Subsea retratam um cenário de contratações em alta no mundo todo. Ainda assim, o setor de óleo e gás do Brasil permanece sendo uma aposta.
A Edison Chouest constrói e opera barcos de apoio contratados por empresas petrolíferas. Por isso, em seu caso, o conteúdo local tem um peso especial. Uma embarcação construída no país, com o uso de equipamentos e serviços nacionais e que conte também com uma tripulação brasileira pode chegar a um índice de nacionalização de 65%.
Esse perfil de ativo é bem visto pelo mercado, já vale pontos numa licitação e tende a valer ainda mais a partir da adoção de uma política de conteúdo local, já que as operadoras de óleo e gás vão ter compromissos mínimos de aquisições no Brasil. Além disso, atualmente, existe um déficit no número de embarcações de apoio disponíveis no mercado, o que só deve ampliar o apetite de investidores daqui para frente.
De olho nisso, a Edison Chouest programa, por conta própria, a construção de seis embarcações, antes mesmo de ter assinado contratos com petrolíferas. “Estamos com apetite para construção. O ideal é que as empresas entendam que há a necessidade de renovação da frota e que lancem editais para novas licitações”, disse Ricardo Chagas, vice-presidente executivo para a América Latina. “Estamos sendo otimistas e precisamos ser, após uma fase sensível”, complementou.
Contra o mercado interno pesa o custo Brasil, que chega a gerar um diferencial de preço de 40% em relação aos competidores chineses, no caso dos PSVs (Platform Supply Vessel). Chagas acredita, no entanto, que o país saia na frente no quesito qualidade técnica. “Mas cada empresa (contratante) tem a sua tomada de decisão”, disse.
A Transpetro, subsidiária de logística e transporte da Petrobras, já anunciou que pretende retomar a construção de navios petroleiros no Brasil, o que se configura como uma política de conteúdo local definida particularmente pela Petrobras. Nesse caso, o dinheiro virá do Fundo de Marinha Mercante (FMM), que será gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A replicação desse modelo de negócio no segmento de barcos de apoio representaria acesso a dinheiro com juros mais baixos, o que facilita o investimento.
No entanto, para Elias Abibe, diretor Comercial da DOF, o Brasil esbarra em alguns desafios para que seja adotada, de fato, uma política de conteúdo local nos moldes da de governos petistas passados. Uma delas é a limitação imposta pela Lei das Estatais do prazo de validade de cada contrato assinado pela Petrobras, de cinco anos, sem perspectiva de renovação.
Até então, quando uma empresa fechava um contrato de oito anos de afretamento de embarcações, já era subentendido que haveria renovação, o que justificava os preços apresentados nas licitações. Agora, o prazo é estipulado em, no máximo, cinco anos, dificultando o investimento. A expectativa do mercado é, portanto, sobre quais ferramentas o governo vai utilizar para driblar esse empecilho na hora de definir sua política de desenvolvimento local a partir da indústria de óleo e gás, de acordo com o executivo da DOF.
Outra questão, segundo Abibe, é a tecnologia que será usada na hora de construir as embarcações, porque, frente às preocupações com a área ambiental e ao desenvolvimento de novas soluções tecnológicas em curto espaço de tempo, a engenharia definida hoje pode ficar ultrapassada em seguida.
“Esse é um momento interessante do setor. Há um tempo não se constrói em volumes significativos. Vamos precisar de um plano mais amplo”, disse Abibe.
Fonte: Petróleo Hoje