Rio Madeira bate mínima histórica; ribeirinhos agora caminham onde só era possível passar de barco
O nível do rio Madeira continua abaixando e batendo mínimas históricas. Na manhã deste sábado (7), ele chegou a 91 centímetros, a menor cota já registrada desde 1967, quando esse monitoramento começou a ser feito. O novo recorde aconteceu apenas dois dias depois de o rio ficar abaixo de um metro pela primeira vez na história.
Os dados são do Serviço Geológico do Brasil, que começou a monitorar o Madeira em 1967. Desde julho o rio vem batendo uma sequência de níveis nunca vistos. A seca tão extrema, sobretudo nos meses de julho e agosto, é inédita.
O cenário afeta diretamente a vida de famílias ribeirinhas que viviam às margens do rio. O rio que batia na porta de casa foi secando gradativamente e se distanciando a ponto de ser necessário andar quilômetros até encontrá-lo.
Vídeos gravados por moradores da comunidade de Itapuã, cerca de 200 km de Porto Velho, mostram a realidade que as famílias enfrentam nos últimos meses. Ribeirinhos que trabalham com a produção e o escoamento de bananas, percorrem a pé por campos de areia que se formaram onde antes só existia água.
Valdino Costa tem 35 anos e nasceu na comunidade ribeirinha de Itapuã. Desde muito jovem, trabalha com escoamento de banana e relatou que essa é a primeira vez que enfrenta uma estiagem tão severa.
Em entrevista, Valdino conta que o trabalho na região está difícil, pois com a seca do rio, as águas recuaram, abrindo espaço para grandes campos de areia. Ele explica que parte do trajeto de escoamento do produto é feito pelo rio, e como a margem das águas está distante, ele e outros produtores precisam percorrer mais do que de costume para descarregar o produto no barco.
Outro problema que atinge as comunidades ribeirinhas é a falta de água potável. Ribeirinhos vivem com menos de 50 litros de água por dia para toda a família, a quantidade abaixo do recomendado para suprir as necessidades básicas de uma pessoa, que seria de 110 litros, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
Atualmente, existem 52 comunidades ribeirinhas em Porto Velho, às margens do rio Madeira. São quase 1,5 mil quilômetros de extensão em água doce. Ainda assim, os ribeirinhos não possuem acesso à água tratada e encanada.