SP vai reduzir vazão de usinas para restabelecer hidrovia
A Companhia Energética de São Paulo (Cesp) inicia nesta sexta-feira plano de redução de vazão de água nas represas das usinas de Porto Primavera e Jupiá. A medida deve elevar o nível de água a montante, na represa de Ilha Solteira e, em 90 dias, poderá trazer a navegabilidade de todo o curso da hidrovia Tietê-Paraná. A informação é da Secretaria Estadual de Logística e Transportes de São Paulo. Em razão do baixo nível de água, a navegação da hidrovia Tietê-Paraná está interrompida no trecho da usina de Três Irmãos, cujo reservatório está ligado ao de Ilha Solteira.
A ideia, segundo Casemiro Tércio Carvalho, diretor do departamento hidroviário da secretaria, é reduzir a vazão de Porto Primavera dos atuais 4.300 m3 por segundo para 3.000 m 3 por segundo. A redução irá acontecer gradativamente, diz, porque haverá monitoramento e controle de seus efeitos.
Com o menor giro das turbinas, diminui também a oxigenação da água, o que poderia causar a morte dos peixes. Os testes de redução de vazão se iniciam na sexta e devem seguir, segundo Carvalho, até domingo, quando se chegará ao nível esperado.
Em Jupiá, a vazão cairá, diz o diretor, de 3.700 m3 por segundo para 2.500 m3 por segundo. A redução nessa represa, porém, se iniciará somente em 10 de outubro e também acontecerá gradativamente. “O objetivo é transferir esse ganho de 1.200 m3 por segundo para a represa de Ilha Solteira.”
O aumento do nível de água em Ilha Solteira, explica, irá se refletir na represa de Três Irmãos e deverá trazer, em 90 dias, condições navegabilidade para o rio Tietê, no trecho próximo à região dos municípios de Andradina e Buritama. Nesse ponto da hidrovia houve redução do calado máximo da embarcação desde abril e, em junho, a navegação foi interrompida.
A profundidade do rio no trecho interrompido está cerca de cinco metros aquém da necessária para o tráfego de embarcações em condições de segurança, segundo a Capitania Fluvial do Tietê-Paraná. A medida, diz Carvalho, também irá beneficiar os piscicultores que tiveram sua atividade prejudicada em razão do baixo nível do reservatório de Ilha Solteira, principalmente na região do município de Santa Fé do Sul.
Segundo o diretor, a redução de vazão em Porto Primavera e Jupiá não irá afetar a produção de energia ou o volume de água disponível a jusante das duas usinas. A represa seguinte, diz ele, é a de Itaipu, que recebe água do rio Paraná e tem como um dos afluentes o rio Paranapanema e, por isso, não deverá sofrer redução de nível. De acordo com Carvalho, a operação já conta com aprovação da Agência Nacional de Águas (ANA), do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama).
Como a recuperação do nível de água deve acontecer somente em dezembro, diz o técnico, não deverá ser revertida a perda contabilizada pelo transporte hidroviário com a interrupção de navegação em um dos trechos da hidrovia Paraná-Tietê. A medida, porém, deve garantir o retorno do nível navegável do rio sem a necessidade de se depender tanto das chuvas do próximo verão.
A previsão inicial era que fossem transportados este ano cerca de 8,1 milhões de toneladas em carga pela hidrovia Tietê-Paraná. Com a interrupção, porém, o volume deve chegar a cerca de 4 milhões de toneladas no ano, estima ele. Carvalho lembra que o maior impacto do trecho interrompido foi sobre o transporte de grãos, como soja e milho, e sobre celulose e madeira.
O transporte de produtos que usam outros trechos da hidrovia, porém, segue normalmente e tem ajudado a amenizar o recuo do volume transportado no rio. Ele dá como exemplo o transporte de cana na região de municípios como Ibitinga e Jaú. “Chegamos a ter um aumento de cerca de 40% nessa navegação”, diz. Sem essas elevações no transporte nos demais trechos da hidrovia, diz Carvalho, o transporte de cargas se reduziria ainda mais, para cerca de 3 milhões de toneladas no ano.
Fonte: Valor Econômico/Marta Watanabe