Os desafios de Dilma para fazer o Brasil crescer em 2015

Os desafios de Dilma para fazer o Brasil crescer em 2015

Mostrar compromisso em combater a inflação, governar também para a “outra metade da população” e colocar em pauta a reforma tributária deverão ser prioridade para a presidente reeleita

Retomar a credibilidade, acalmar o ânimo da população brasileira e mostrar que há o compromisso de combater a inflação estão entre os principais desafios a ser enfrentados por Dilma Rousseff, segundo cientistas políticos e economistas consultados por Época NEGÓCIOS. “Temos que acabar com as relações de ódio que essas eleições geraram. A presidente precisa unir o país. Quem é eleito por uma parcela vira governante de todos”, afirma Marco Antônio Teixeira, professor de ciência política da Fundação Getulio Vargas (FGV). 

Com eleições disputadas até o último dia e vitória com pouquíssima margem de diferença, Dilma tem como desafio governar para a “outra metade da população”, afirma Carlos Pereira, cientista político e professor da FGV. Em sua opinião, o Brasil se dividiu na defesa de duas crenças muito fortes: o grupo que apoia os programas de distribuição de renda e viu em Dilma seu maior representante e o grupo que preza pela estabilidade econômica e teme a volta da inflação, que encontrou em Aécio Neves um porto seguro. “Ela não pode ignorar as demandas da metade perdedora. Para evitar perder legitimidade, precisará sinalizar uma mudança drástica na política econômica, tomar decisões claras sobre a macroeconomia”, afirma.

Pereira também afirma que a sociedade brasileira se tornou mais demandante, participativa e vigilante nos últimos anos. Por isso, Dilma terá que prestar mais atenção às exigências desse novo eleitorado.

Outro desafio, na esfera política, será a montagem de uma coalizão no Congresso. As eleições deste ano colocaram um número maior de partidos na Câmara. A maioria dos partidos, segundo Pereira, tem interesse em ficar próximo ao presidente eleito – exceto aqueles que pretendem lançar um candidato próprio para disputar as próximas eleições. No mandato que se encerra agora, a presidente não foi bem sucedida nessa tarefa, em sua avaliação. “A coalizão do PT era uma salada de frutas, uma coalizão muito heterogênea”, diz. “Espero que o governo Dilma tenha aprendido com os erros do passado e faça ajustes, formando uma coalizão com menos partidos e ideias mais homogêneas, bem como uma divisão justa de poder entre os aliados”.

Economia

Especialistas ouvidos por NEGÓCIOS concordam que 2015 será um “ano de ajustes”, em vários setores da economia. O resultado do PIB do 2º trimestre não foi dos mais positivos. Pela segunda vez consecutiva, ele apresentou queda e a economia brasileira entrou em recessão técnica. O baixo nível de investimentos e desempenho da indústria, os altos índices de inflação nos últimos meses e a forte queda das exportações contribuíram para o resultado. “A curto e médio prazo, a perspectiva é ruim. Será preciso retomar o vigor da atividade econômica”, diz Marco Antônio Teixeira. Ele afirma que durante os debates foram separados dois temas que na verdade deveriam caminhar juntos: a manutenção das políticas sociais depende de receita do governo.

Para Francisco Pessoa, economista da LCA Consultores, a primeira medida de Dilma deve ser “retomar a credibilidade” das políticas do governo para investidores e agentes econômicos. “Isso passa por estabelecer uma meta fiscal transparente, crível e abandonar qualquer tipo de artifício contábil – como manobras (empréstimos, adiamentos)”, afirma.

Em segundo lugar, está o de mostrar ao mercado e à sociedade que “realmente há um compromisso em combater a inflação”. “É bem provável que ano que vem ainda não se consiga atingir a meta. Mas não tem problema. O importante é dar o caminho das pedras, mostrar o compromisso, para recuperar a confiança do mercado e os investimentos”.  Pessoa avalia que há um cenário diferente desta vez: ao longo dos últimos 20 anos, os momentos de grande redução de inflação coincidiram com os de valorização do real.

Outro desafio, um dos mais difíceis avalia Pessoa, é realizar o ajuste fiscal. “Você tem uma série de desonerações para ajudar o nível de atividade econômica , mas ela não está crescendo – e existem demandas sociais altíssimas no pais. Como gastar melhor sem aumentar a carga tributaria é a questão”.

No primeiro mandato, após buscar estimular a atividade econômica via consumo,o governo Dilma buscou fazê-la via concessões públicas de infraestrutura. Realizou o leilão das rodovias e concedeu seis aeroportos à iniciativa privada. Mas o modelo não atraiu a adesão esperada de investidores – o leilão de ferrovias, por exemplo, não saiu. Pessoa acredita que Dilma precisa insistir nesse caminho, buscando “desatar nós, fazer uma força tarefa” e ações que atraiam a iniciativa privada. “Só aumentaremos a competitividade do país se continuarmos os investimentos em infraestrutura”.

Outra medida para ajudar a deslanchar os investimentos seria conseguir rapidamente colocar em pauta a reforma tributária, algo que está tramitando  no Congresso sem soluções há décadas. “Em toda transição de governo se levanta esse tema. Mas se não se faz no primeiro ano de mandato, quando não há preocupação alguma com eleições, não se faz mais”, diz Texeira, da FGV.

“Com a simplicação de tributos empresas gastariam menos tempo pagando impostos, teriam mais segurança para operar e isso também facilitaria a abertura de novos negócios. Temos que tornar a vida de quem quer crescer, produzir, mais fácil no país”, avalia Pessoa.

Com relação à influência do cenário externo, Pessoa acha que o cenário “não pode piorar”. “A tendência é um cenário neutro, que não atrapalhe muito – e que a situação com a Argentina, de exportações de carro, e com a Venezuela, de comércio, melhore”.

Fonte: Época Negócios – Barbara Bigarelli E Marcela Bourroul