Área do estaleiro Caneco vai ser desapropriada

Área do estaleiro Caneco vai ser desapropriada

Mais uma tentativa de colocar ponto final no processo de falência do estaleiro Caneco, no Caju, ocorrerá na próxima quinta-feira. O Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) marcou para o dia 31 deste mês a data do leilão da área que fica na Zona Portuária. A falência ocorrida em outubro de 2006 prejudicou centenas de famílias.

No entanto, dois decretos publicados no Diário Oficial do Município do Rio no dia 18 podem, novamente, inviabilizar a batida do martelo.Assinados pelo prefeito Eduardo Paes, o primeiro, 338.955, declara de utilidade pública, para fins de desapropriação, e em favor da Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio (Codin), a área de 141 mil metros quadrados, na Rua Carlos Seidl, no Caju.

O local pertencente ao antigo Caneco, onde hoje funcionam as empresas Intercam e Grupo Rio Nave, ambas voltadas para a Indústria Naval. Já o segundo decreto (38.956), cria na mesma área o Distrito Industrial Naval do Município do Rio. Pelo artigo primeiro, o local fica destinado a empresas do segmento, sob forma onerosa (mediante pagamento), que ali desejarem se instalar. Cabe à Codin promover o processo de ocupação da área.

“A área é vocacionada para essa atividade. Transformar o Caneco em um distrito naval, onde já há outras empresas do setor em atividade, é garantir o desenvolvimento da Indústria Naval fluminense e brasileira”, destaca o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Julio Bueno.

Segundo ele, a desapropriação do terreno do antigo estaleiro e a transformação em distrito naval são vitórias que vão garantir a segurança de que área continuará voltada para o seu segmento. Segundo Bueno, o leilão poderia não preservar empregos ou até mesmo manter baixo o investimento na área, caso não houvesse interessados em adquirir o espaço ou comprado por grupos de outras atividades econômicas.

O receio de Julio Bueno se justifica, já que não é a primeira vez que a 5ª Vara Empresarial da Capital, instância em que o processo de falência tramita, busca promover o leilão do terreno. A última tentativa ocorreu em 2012. Também o valor estipulado para o leilão, de R$ 371 milhões, pode afastar interessados. Além do terreno, fazem parte dos bens alienados os maquinários e os equipamentos como guindastes e pontes rolantes, entre outros.

O Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) apoia a desapropriação da área do antigo Caneco. Por meio de nota, o presidente da entidade, Ariovaldo Rocha, informou “considerar essencial para a Indústria da Construção Naval fluminense a manutenção integral das instalações produtivas do estaleiro, que há mais de dez anos integram o arranjo produtivo da Construção Naval no entorno da Baía da Guanabara”. Ariovaldo lembra que a Indústria Naval do Estado do Rio representa cerca de 37% do total de emprego direto gerado no setor, hoje de 80 mil no país. Atualmente, em todo o estado, há 18 estaleiros ativos.

Caxias abrigará polo de navipeças

Para incentivar a atração de empresas fornecedoras de equipamentos para estaleiros, o governo do estado criou o Polo Industrial, Logístico, Naval e Offshore (Polinavi), em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A área total tem quatro milhões de metros quadrados, sendo dois milhões só de área útil.

O projeto prevê investimentos na ordem de R$ 250 milhões, recursos estaduais para adequar a área destinada a novas empresas. A expectativa é de que o polo atraia investimentos de R$ 1,5 bilhão e gere cerca de cinco mil empregos diretos assim que começar a ser implementado, a partir do próximo ano.

Com o polo de navipeças, empresas fornecedoras terão acesso marítimo aos 18 estaleiros instalados na Baia da Guanabara, para levar até eles carga e equipamentos, o que contribuirá para aliviar o tráfego na Região

Metropolitana do Rio de Janeiro. O polo vai atuar como se fosse um condomínio industrial, tendo como característica principal sua ênfase no modal hidroviário. Trata-se de iniciativa pioneira na América Latina no segmento naval.

Incentivo à indústria naval

Desde o ano 2000, a área do Caneco é ocupada sob regime de locação pelo Rio Nave, estaleiro de porte médio, com capacidade de processamento de 48 mil toneladas/ano. Uma parte menor do terreno é arrendada pela Intercam, fornecedora de peças para o segmento naval.

Presidente do Rio Nave, Mauro Campos também apoia a instalação de um distrito naval no local, para poder expandir ainda mais as operações do grupo que, segundo o empresário, estão represadas. Se no auge, nos anos 1990, o Caneco chegou a ter cinco mil trabalhadores, o Rio Nave funciona hoje com 1.500.

Nos últimos cinco anos, o grupo investiu no local R$ 15 milhões, além de capacitação de mão de obra e instalação de uma escola de solda. Hoje, a empresa tem em ciclo de produção US$300 milhões (R$660 milhões) em encomendas para construção de embarcações para armadores brasileiros. Entre os anos de 2009 e 2013, promoveu a construção de 13 embarcações (como empurradores, rebocadores e balsas) para clientes como Norsul, Aliança, Promar STX e a Transpetro.

De acordo com o secretário Julio Bueno, além do Rio Nave, o distrito pode abrigar mais duas ou três empresas complementares da indústria naval. Bueno aposta no desenvolvimento do setor, de fabricantes e subfornecedores de equipamentos submarinos para o estado, que é responsável por mais 80% da produção de petróleo e gás natural brasileiro.

Fonte: O Dia/Aurélio Gimenez