Comandante da Marinha do Brasil fala sobre os novos projetos

Comandante da Marinha do Brasil fala sobre os novos projetos

Com mais de 40 anos de carreira, o Almirante-de-Esquadra Eduardo Barcellar Leal Ferreira, já recebeu diversas condecorações e desempenhou importantes funções de liderança

Em cerimônia, realizada no Grupamento de Fuzileiros Navais de Brasília, o Almirante-de-Esquadra Eduardo Barcellar Leal Ferreira assumiu o Comando da Marinha do Brasil (MB).

O evento contou com a participação de diversas autoridades nacionais e internacionais, além da presença do Ministro da Defesa Jaques Wagner, dos Ministros de Estado, Ministros do Supremo Tribunal Federal, membros do Alto-Comando, do antigo Comandante da Marinha, Almirante Moura Neto, entre outros convidados.

Durante a leitura da Ordem do Dia, o Comandante Leal Ferreira ressaltou que não fará mudanças de imediato. “Assumo o timão encontrando uma Marinha organizada, com rumos bem traçados. Não há necessidade, e este é o momento de asseverar-lhes, de mudanças no regime de máquinas ou guinadas fortes. Assim, permanecem em vigor todas as ordens emanadas de meu antecessor!”, disse.

Com 44 anos de carreira militar, Leal Ferreira irá chefiar uma Força que possui aproximadamente 78 mil servidores entre militares e civis, sendo 13% de mulheres. Em seu discurso, o comandante reafirmou o compromisso de zelar pelo legado de valores e tradição que a Marinha preserva ao longo de sua história

Leal Ferreira, que permaneceu embarcado por mais de 16 anos e acumulou cerca de 1.300 dias de mar, toma posse de um dos mais importantes postos da Marinha. Ele substitui o Almirante-de-Esquadra Julio Soares de Moura Neto, que conseguiu ao decorrer de sua gestão (período de 2007 a 2014) realizar diversos projetos de obtenção de navios, submarinos e modernização de equipamentos, visando aprimorar os trabalhos desenvolvidos pela Marinha brasileira.

Em entrevista exclusiva concedida ao SINCOMAM, o novo Comandante da Marinha revela os desafios que terá nos próximos anos e os projetos que serão priorizados já em 2015.

Revista SINCOMAM – Como foi construída a trajetória do Comandante Leal Ferreira, de 62 anos?
Almirante-de-Esquadra Eduardo Barcellar Leal Ferreira – Eu nasci em 2 de junho de 1952, sou natural do Rio de Janeiro e ingressei na carreira militar em 1971. Fui declarado Guarda-Marinha em 1974, tendo sido o primeiro colocado no curso de formação na Escola Naval.

Em meus mais de 40 anos de carreira, tive a oportunidade de ser instrutor na Academia Naval de Anápolis, dos Estados Unidos da América, e realizar um Curso de Altos Estudos Militares na Academia de Guerra Naval do Chile.

Além disso, tive a honra de receber diversas condecorações e desempenhei funções que me trouxeram muitas realizações profissionais e pessoais, como por exemplo: Comandante do Aviso de Instrução “Aspirante Nascimento”; Comandante da Corveta “Frontin”; Comandante da Fragata “Bosísio”; Comandante do 2º Esquadrão de Escolta; Capitão dos Portos do Rio de Janeiro; Comandante do Centro de Instrução Almirante Alexandrino; Comandante da Escola Naval; Comandante do 7º Distrito Naval; Diretor de Portos e Costas; e Comandante-em-Chefe da Esquadra.

O último cargo que ocupei foi o de Comandante da Escola Superior de Guerra. Fui promovido ao primeiro posto de Almirante em março de 2004 e ao de Almirante-de-Esquadra em março de 2013. Após toda essa rica e inesquecível experiência profissional, é muito gratificante ser escolhido para comandar a Marinha do Brasil.

R.S. – Quais são as responsabilidades de um Comandante da Força Naval?
Almirante-de-Esquadra Eduardo Barcellar Leal Ferreira – O Comandante da Força tem a responsabilidade de manter a Força permanentemente pronta para suas missões com a máxima eficiência. 

R.S. – A presidenta Dilma Rousseff optou por uma renovação nas Forças Amadas. Desta forma, quais são os maiores desafios que o novo Comandante da Marinha irá enfrentar?
Almirante-de-Esquadra Eduardo Barcellar Leal Ferreira – O mar é de extrema importância para o Brasil. Precisa ser vigiado e protegido em tempo de paz e defendido em caso de conflito. As Águas Jurisdicionais Brasileiras (AJB), nossa “Amazônia Azul”, tem de 4,5 milhões de Km². A tarefa de protegê-la é imensa e complexa, exigindo um Poder Naval moderno, equilibrado, adequadamente aparelhado e balanceado, em quantidade e qualidade.

Nesse contexto, a Marinha do Brasil (MB) viu a necessidade de ampliar a parcela dos recursos orçamentários destinados ao desenvolvimento de projetos estratégicos, dos quais destaco o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB) e o Programa Nuclear da Marinha (PNM), que têm como objetivo maior o projeto e a construção do primeiro submarino brasileiro com propulsão nuclear. Embora efetuado de forma planejada e progressiva, o aumento dos investimentos vem exigindo significativa redução do montante alocado para o funcionamento e a manutenção operativa da Força.

O meu grande desafio, portanto, será garantir os recursos necessários para manter a operação dos nossos meios atuais, com a capacidade que permita desencorajar ações adversas aos interesses nacionais.

R.S. – Quanto à modernização do porta-aviões “São Paulo” – remodelação que começou a ser feita ainda no ano passado, pelo Almirante Moura Neto. Como o senhor pretende dar andamento neste projeto?
Almirante-de-Esquadra Eduardo Barcellar Leal Ferreira – O projeto para a modernização do navio está, ainda, em uma fase embrionária, sendo prematuro afirmar o escopo e os custos envolvidos. A modernização pretendida para o NAe “São Paulo” tem como premissa básica a garantia da operação segura da aviação naval brasileira embarcada em navio-aeródromo. Os estudos até o momento conduzidos identificaram a necessidade da substituição de toda a instalação a vapor. Inicialmente, o novo arranjo consistiria de um sistema integrado de propulsão e de geração de energia “diesel-elétrico”, o que implicaria na substituição das turbinas a vapor por motores elétricos de propulsão.

R.S. – O que significa o Prosuper para a geração de empregos diretos no Brasil?
Almirante-de-Esquadra Eduardo Barcellar Leal Ferreira – O Programa de Obtenção de Meios de Superfície (PROSUPER) contempla cinco Navios-Patrulha de 1.800 ton, cinco Escoltas de cerca de 6 mil ton e um Navio de Apoio Logístico com cerca de 12 mil ton. O modelo estratégico concebido pela MB prevê a construção desses meios a partir de classes de navios já existentes e testados que, após adaptados para atender aos requisitos da Força, sejam produzidos no Brasil.

Além da criação de empregos (350 diretos e 1.400 indiretos, por navio construído) o Programa inclui transferência de tecnologia, requisitos de nacionalização e outras compensações, trazendo benefícios significativos para o desenvolvimento da nossa base industrial de defesa.

R.S. – A Marinha vem realizando treinamento de segurança para grandes no Brasil, como as Olimpíadas em 2016. Desta forma, quais medidas o senhor pretende tomar para garantir a segurança nos mares, rios e lagos brasileiros?
Almirante-de-Esquadra Eduardo Barcellar Leal Ferreira – Para os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016, o planejamento estratégico de Defesa prevê a participação efetiva de diversos órgãos dentre os quais podemos destacar os Ministérios da Defesa e da Justiça, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e órgãos de Segurança Pública de governos estaduais e municipais. Trata-se, portanto, de uma operação interagências, em que as Forças Armadas atuarão sob a coordenação do Ministério da Defesa em cooperação com esses órgãos.

O planejamento da MB para o emprego dos meios navais, aeronavais e de Fuzileiros Navais para grandes eventos foi recentemente implementado durante a realização da Copa do Mundo FIFA 2014. Em que pese a eficácia da Força Naval ter sido considerada satisfatória durante esses eventos, aperfeiçoamentos serão implementados para os Jogos Olímpicos.

Todavia, as ações da MB não se restringem aos grandes eventos, ocorrem diuturnamente com o cumprimento de diversas tarefas, das quais posso exemplificar: a salvaguarda da vida humana no mar, por meio da operação ininterrupta do Serviço de Busca e Salvamento Marítimo (SALVAMAR Brasil); o controle do tráfego aquaviário, monitorando a movimentação de todas as embarcações que navegam nas águas jurisdicionais brasileiras; e a prevenção da poluição hídrica.

Portanto, durante a realização das Olimpíadas, a MB garantirá a segurança, com o emprego de seus meios, intensificando as patrulhas navais e outras ações rotineiras que sejam necessárias, em locais previamente identificados.

R.S. – Ainda em 2015, quais são os projetos que o Poder Naval irá priorizar?
Almirante-de-Esquadra Eduardo Barcellar Leal Ferreira – A Estratégia Nacional de Defesa (END) ressalta a condução das seguintes atividades: a) A defesa das plataformas petrolíferas; b) A defesa das instalações navais e portuárias, dos arquipélagos e das ilhas oceânicas nas águas jurisdicionais brasileiras; c) A prontidão para responder a qualquer ameaça, por Estado ou por forças não-convencionais ou criminosas, às vias marítimas de comércio; e d) A capacidade de participar de operações internacionais de paz, fora do território e das AJB, sob a égide das Nações Unidas ou de organismos multilaterais da região.

Assim, para manter um Poder Naval apto a cumprir as tarefas que lhe são atribuídas, respeitando as diretrizes emanadas pelo Poder Político e as aspirações da sociedade brasileira, foram estabelecidos sete Projetos Estratégicos que constituem as prioridades da MB para os próximos anos: a Recuperação da Capacidade Operacional (RCO); o Programa Nuclear da Marinha (PNM); a Construção do Núcleo do Poder Naval; o Complexo Naval da 2ª Esquadra e da 2ª FFE; o Pessoal – “Nosso Maior Patrimônio”; a Segurança da Navegação; e o Sistema de Gerenciamento da “Amazônia Azul”.

R.S. – O que os brasileiros podem esperar do novo mandato do Comandante da Marinha?
Almirante-de-Esquadra Eduardo Barcellar Leal Ferreira – Espero contribuir para que a Marinha seja, cada vez mais, uma Força moderna, equilibrada e balanceada, que disponha de meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais compatíveis com a posição e aspirações do nosso País no cenário internacional e, em sintonia com os anseios da sociedade brasileira, estando permanentemente pronta para atuar em nossa “Amazônia Azul”, assegurando os interesses do Brasil.

Assim, empenharei meus esforços para que a MB mantenha seus meios e efetivos, nas melhores condições possíveis, por meio do contínuo aperfeiçoamento da qualidade da instrução nas Escolas de Formação; pelo adestramento intensivo do pessoal que guarnece os meios operativos; e pelo atendimento das funções logísticas, particularmente, as relativas aos sistemas de armas, com o propósito de elevar as condições de pronto emprego dos meios operativos ora existentes e preparar a Força para manter os equipamentos que serão incorporados com a execução dos projetos estratégicos concebidos. Isso requer dedicação especial na sua atuação em águas litorâneas e interiores, para a segurança do tráfego aquaviária, a prevenção da poluição hídrica e a salvaguarda da vida humana no mar.

Fonte: Margarida Putti / SINCOMAM