Como a covid criou um congestionamento gigantesco no porto de Xangai que afeta o mundo inteiro
Dezenas de cidades da China estão atualmente em confinamento parcial ou total após um novo aumento de casos de coronavírus no país devido à disseminação da variante ômicron. A situação ameaça a controversa estratégia de “covid zero” das autoridades chineses.
Com 25 milhões de habitantes e um peso vital para a economia do país, a cidade de Xangai sofre a pior onda de covid desde o início da pandemia, em Wuhan, há mais de dois anos.
No entanto, o confinamento ao qual a cidade está submetida dificulta a chegada dos caminhões para levar as mercadorias a outros locais ou distribuí-las às fábricas próximas. Muitas indústrias, como a Volkswagen e a Tesla, tiveram que interromper suas atividades.
“As restrições afetam principalmente as estradas de entrada e saída do porto, resultando em um acúmulo de contêineres e uma redução de 30% na produtividade”, explica Mike Kerley, gerente de investimentos da empresa Janus Henderson.
Soma-se a isso a carência de trabalhadores portuários para processar os documentos necessários para que os navios desembarquem suas mercadorias ou façam a inspeção de saída.
Agora os barcos também estão se acumulando na costa e nos canais ao redor do porto esperando o sinal verde para atracar.
Os dados da consultoria VesselsValue demonstram como aumentaram os tempos de espera para navios tanque, navios graneleiros e navios cargueiros.
Outro problema é que milhares de contêineres estão se acumulando no porto, colocando mais uma vez a cadeia de suprimentos global em xeque justamente quando os analistas estavam confiantes em sua recuperação após a pandemia.
Uma grande parte está em quarentena em instalações centralizadas, onde muitas pessoas se queixam de más condições.
Máquinas de lavar, aspiradores e roupas
Os principais produtos exportados por Xangai incluem máquinas de lavar, aspiradores, painéis solares, componentes eletrônicos e têxteis.
A escassez temporária pode ser aparente para esses produtos, já que a exportação através de Xangai representa 30-50% do total das exportações chinesas desses produtos”, disse Kerley, da Janus Henderson.
A Ocean Network Express, uma empresa japonesa de transporte, avisou os clientes que contêineres estão se acumulando no porto de Xangai.
“A situação não melhorou desde nossa última atualização em 6 de abril. O transporte rodoviário continua limitado e os terminais ainda estão congestionados, enquanto a capacidade de conexão da zona refrigerada continua muito tensa”, disse a empresa em um comunicado.
A maior empresa de transporte marítimo do mundo, Maersk, também emitiu um comunicado nesta semana dizendo que “vários navios vão pular o porto de Xangai em suas rotas” devido à falta de espaço disponível para contêineres.
As consequências globais são cadeias de suprimentos tensas, fluxo lento de importações e aumento da inflação.
“Há muita preocupação de que as exportações sejam afetadas e do impacto inflacionário no mundo, inclusive na América Latina, que é um grande parceiro comercial da China”, diz Alicia García-Herrero, economista-chefe para Ásia-Pacífico do banco de investimentos Natixis .
“Como a capacidade do porto não é a mesma de março, nem de fevereiro, levará algum tempo para resolver tudo isso. Mesmo que o lockdown da cidade termine amanhã, há um acúmulo de capacidade que não será resolvido rapidamente”, diz Rodrigo Zeidan, professor de Economia e Finanças da NYU Shanghai, à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.
Fonte: BBC