Desemprego: agrava-se crise no setor naval

Desemprego: agrava-se crise no setor naval

Setor já contabiliza a perda de 12,7 mil postos de trabalho nos últimos 14 meses

O combalido polo naval de Pernambuco sofreu mais um golpe. A Transpetro – subsidiária de Transporte da Petrobras – cancelou a encomenda de dois navios gaseiros ao estaleiro Vard Promar, em operação no Complexo de Suape. A rescisão dos contratos vai significar mais desemprego no setor, que já contabiliza a perda de 12,7 mil postos de trabalho nos últimos 14 meses. A estatal alega descumprimento de cláusula contratual (em função dos atrasos na entrega das embarcações), mas a crise financeira na Petrobras e as investigações da operação Lava Jato na Sete Brasil também influenciaram na decisão.

“Recebemos a notícia com muita preocupação. Hoje (ontem) estivemos no Promar porque recebemos denúncias de trabalhadores de empresas terceirizadas do estaleiro devendo a primeira parcela do 13º salário e o mês de novembro. As empresas alegam que o Promar está atrasando o pagamento de faturas. Tememos que a situação represente mais desemprego na atividade. O Estaleiro Atlântico Sul (EAS) já demitiu 2,7 mil funcionários e em toda a cadeia produtiva foram 10 mil”, calcula o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco (Sindmetal-PE), Henrique Gomes.

Em 2010, o Vard Promar assinou contrato com a Transpetro para construir oito navios utilizados no transporte de gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de cozinha, dentro do Programa de Expansão e Modernização da Frota (Promef). Orçada em US$ 536 milhões, a encomenda deveria ser entregue até o final de 2017. Como o estaleiro ainda estava em construção em Suape, os dois primeiros navios (Oscar Niemeyer e Paulo Freire) foram edificados na unidade da empresa em Niterói, no Rio. O primeiro construído em Pernambuco foi o Barbosa Lima Sobrinho, que foi lançado ao mar em setembro de 2014, mas só foi entregue à Transpetro este mês. Após o lançamento, uma embarcação leva cerca de três meses para ser concluída.

Os atrasos na entrega fizeram o Vard abrir seleção para contratar mão de obra de estaleiros que fecharam as portas no Rio, a exemplo do Eisa Petro I (ex-Mauá). Pelas contas do Sindmetal, 60 funcionários do Rio foram contratados recentemente. O estaleiro conta com 1,2 mil funcionários próprios, além de 400 terceirizados. Numa conta simples, o cancelamento de dois dos seis navios que ainda faltam ser entregues, significaria uma redução de um terço no quadro de colaboradores.

Procurado pelo JC, o Vard não se pronunciou. No mercado, a informação é de que o estaleiro vai buscar compensações. As duas embarcações canceladas representam R$ 300 milhões que deixarão de entrar no caixa da empresa. Com a crise na Petrobras, a Transpetro estava atrasando os pagamentos. Em setembro, o Vard solicitou uma avaliação de reequilíbrio financeiro nos contratos. A diretoria do estaleiro pediu, ainda, uma prorrogação de oito meses no prazo de conclusão das encomendas, mas a Transpetro respondeu com o cancelamento dos dois últimos navios do pacote que ainda não estavam em construção.

Por meio de nota, a Transpetro afirma que “por descumprimento de cláusula contratual, a companhia deu início ao processo de rescisão de contrato dos dois últimos gaseiros da série de encomendas ao estaleiro Vard Promar”, diz o texto. O corte também poderá se estender para o EAS, que ficou responsável por 22 embarcações do Promef e até agora só entregou seis. “No caso do Estaleiro Atlântico Sul, a companhia, alinhada ao Plano de Negócios e Gestão da Petrobras, está reavaliando o cronograma de entrega das embarcações encomendadas”, diz a Transpetro.

Governador Paulo Câmara pede audiência

O impacto da crise da Petrobras em Pernambuco motivou pedido de reunião do governador Paulo Câmara com o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine. A data ainda não foi divulgada, mas a conversa vai passar pelo avanço do desemprego no Estado, em função da desmobilização da obra da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e da crise nos estaleiros, que reverberou na indústria metalmecânica local.

Pernambuco foi um dos Estados escolhidos pelo ex-presidente Lula no projeto de retomada e descentralização da indústria naval no País. Para garantir a implantação de um polo naval, o governo investiu R$ 300 milhões em obras de infraestrutura (acesso rodoviário à Ilha de Tatuoca e dragagens), além de qualificação de mão de obra, desapropriações e construção de um condomínio habitacional para abrigar os nativos da ilha.

Só a desmobilização da Rnest fechou 42 mil postos de trabalho na constrição e montagem do empreendimento, sem falar nos empregos indiretos na construção civil, na indústria e no varejo.

Além dos desligamentos, a suspensão da construção do segundo trem também frustrou a expectativa de avanço da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) do Estado. A expectativa era que a refinaria processasse sua capacidade total de 230 mil barris de petróleo por dia, mas esse volume está limitado a 74 mil por falta da conclusão do segundo trem e do descumprimento de exigências ambientais.

O governador quer colocar esses assuntos em pauta e espera uma sinalização das retomada das obras do segundo trem que pode significar a reabertura de 15 mil a 18 mil postos de trabalho na obra. O Plano de Negócios da Petrobras prevê a remobilização apenas para 2017 e a inauguração em 2018, mas Câmara espera que essa data seja revista para 2016, numa tentativa de dinamizar a economia pernambucana no próximo ano.

O cancelamento dos contratos de dois navios do Vard Promar também são uma demonstração da Petrobras de cortar investimentos.

Em 2012, a Transpetro chegou a suspender os contratos de 12 navios com o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), mas não chegou a rescindir. A empresa demorou quase quatro anos para entregar o João Cândido, primeiro petroleiro construído no Estado. Com intenção de reduzir investimentos, o Promar não teve a mesma tolerância.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)/Adriana Guarda