Dez anos depois de lançado, Prosub tenta entrar em nova fase

Dez anos depois de lançado, Prosub tenta entrar em nova fase

Dez anos depois de ter sido lançado, em 2008, dentro de um acordo entre Brasil e França, o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) tenta engatar uma nova etapa e deixar para trás uma série de problemas, que envolveram desde contingenciamentos orçamentários e desafios técnicos e tecnológicos até citações nas delações da Odebrecht na Lava-Jato. Apesar dos obstáculos, o programa continuou sendo desenvolvido sob o comando da Marinha do Brasil.

Hoje o presidente Michel Temer participa de cerimônia, em Itaguaí (RJ), que marca o início da integração do primeiro dos quatro submarinos convencionais do Prosub, o Riachuelo. O programa também inclui a construção do primeiro submarino nuclear brasileiro, além da implantação de uma infraestrutura industrial em Itaguaí. O investimento total é estimado pela Marinha em R$ 30 bilhões.

A nova fase do Prosub será marcada justamente pela integração dos quatro submarinos da chamada classe Riachuelo no estaleiro da Itaguaí Construções Navais (ICN). A integração é a etapa em que diferentes seções de um submarino são unidas dando forma final à embarcação. O submarino Riachuelo, que dá nome à classe, deve ser lançado ao mar no fim deste ano e tem previsão de entrar em operação em 2020, com cerca de três anos de atraso. Já o submarino nuclear, projeto mais complexo do que as unidades convencionais, deve ser entregue em 2029, quatro anos depois do esperado. Para a Marinha, os atrasos são aceitáveis dada a complexidade do Prosub.

A ICN, responsável pela construção dos submarinos, é uma sociedade de propósito específico cujos sócios são a francesa Naval Group (antiga DCNS) e a Odebrecht. No acordo firmado entre Brasil e França, acertado entre os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Nicolas Sarkozy, se previu transferência de tecnologia da França para os submarinos convencionais, baseados na classe Scorpène, da Naval Group, e também para o projeto do submarino nuclear. A propulsão desse submarino, porém, está sendo integralmente desenvolvida pela Marinha do Brasil. Em janeiro de 2017, foi concluído o projeto básico do submarino nuclear, que foi certificado pela Naval Group.

Há hoje cerca de 250 técnicos e engenheiros trabalhando no projeto do submarino de propulsão nuclear que vai representar um salto tecnológico para o Brasil. No caso dos submarinos convencionais, as novas unidades poderão substituir a frota existente, formada por submarinos da classe Tupi. Mas essa decisão não está tomada até porque, nos últimos anos, houve investimentos e modernização do Tupi, a embarcação que dá nome à classe já em operação. O Riachuelo, o primeiro submarino do Prosub, terá 72 metros de comprimento, propulsão diesel-elétrica, autonomia de navegação de cerca de 70 dias e capacidade para levar a bordo tripulação de 35 militares.

Para a Marinha, o Prosub é importante na defesa da chamada Amazônia Azul, o território marítimo brasileiro, e também como estratégia de “dissuasão”. De acordo com a Marinha, o Prosub conta com orçamento de cerca de R$ 1,6 bilhão para 2018. No total, cerca de 700 empresas brasileiras se envolveram direta e indiretamente no Prosub em diferentes processos de nacionalização de equipamentos. O programa envolve ao todo seis contratos. Um para os submarinos convencionais, outro para o submarino nuclear e um terceiro contrato envolvendo os armamentos (torpedos). Há ainda um quarto contrato para a construção da infraestrutura industrial em Itaguaí e um quinto contrato com o consórcio Baía de Sepetiba, responsável pela coordenação do programa, além de um contrato para a transferência de tecnologia.

A Odebrecht participa em vários desses contratos, seja via ICN ou por meio da Construtora Norberto Odebrecht (CNO). Segundo o Prosub, todos os contratos foram mantidos “normalmente” mesmo depois de tornada pública a delação de ex-diretor da Odebrecht que afirmou, à Procuradoria Geral da República, que teria havido pagamento de R$ 17 milhões ao PT dentro do contrato do submarino. A Marinha disse não ter dúvidas sobre o desenvolvimento do Prosub, e afirmou que o programa vem sendo auditado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), com pareceres “favoráveis”, além de passar por avaliações da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do Instituto Brasileiro de Engenharia de Custos (IBEC). A Marinha faz, por sua vez, suas próprias avaliações de custos.

Fonte: Valor