Estratégia de adaptação climática que viabilizou navegação durante estiagem em Manaus
A região amazônica enfrentou, neste ano, uma grave estiagem que alterou severamente os ciclos naturais de vazante e cheia dos rios amazônicos. Em Manaus, o nível do Rio Negro atingiu marcas críticas, comprometendo o transporte de cargas, dificultando as operações dos navios que abastecem a população e escoam a produção industrial local.
Segundo a Defesa Civil do Estado, a estiagem deste ano é considerada a pior da história em termos de impactos econômicos e sociais, superando os recordes de 2023. Os prejuízos ultrapassam R$ 620 milhões, afetando quase 770 mil pessoas. Os números refletem um padrão preocupante, impulsionado pelas mudanças climáticas, que têm tornado eventos dessa natureza mais intensos e frequentes.
A solução do píer flutuante para restabelecer a atividade portuária
Para garantir a continuidade das operações logísticas em Manaus, foi necessário desenvolver uma solução complexa e inovadora: a empresa Super Terminais reposicionou um píer flutuante do Porto de Manaus, a 200km da capital, em Itacoatiara, para funcionar 24 horas por dia, 7 dias por semana.
A estrutura de 240 metros de comprimento e 24 metros de largura foi projetada para operar em áreas de baixa profundidade, permitindo que grandes embarcações descarreguem suas cargas em um ponto onde o calado do rio ainda é suficiente para a navegação segura. Ao chegar no píer, as cargas são então transferidas para barcaças menores. Por navegarem em calados mais baixos, elas podem transportar os produtos até o porto de Manaus.
O investimento estratégico envolveu a mobilização de recursos técnicos e logísticos consideráveis e possibilitou uma operação de transbordo segura e eficiente, minimizando o risco de interrupção no abastecimento de alimentos, medicamentos e outros itens essenciais para a região. Ao mesmo tempo, garantiu que a produção industrial da Zona Franca continuasse a ser escoada, preservando a atividade econômica em um momento crítico.
Estratégia de adaptação climática que viabilizou o projeto
A complexidade da operação não era apenas logística, mas também financeira. Sem um seguro que cobrisse os riscos de acidentes e danos causados pela movimentação de mercadorias em uma estrutura contingencial, o custo seria tão elevado que tornaria a operação economicamente inviável.
Para mitigar esses riscos se criou uma estrutura de seguro sob medida, cobrindo desde danos potenciais às mercadorias até acidentes ambientais e operacionais associados à movimentação de cargas no rio Amazonas.
Foi estruturado um modelo que envolveu múltiplas seguradoras, dividindo o risco e evitando que o custo da apólice se tornasse proibitivo para os operadores portuários e empresas de navegação. A abordagem foi essencial para proteger cargas avaliadas em centenas de milhões de reais e, ao mesmo tempo, viabilizar a continuidade das operações logísticas sob condições climáticas extremas.
Sem o seguro sob medida, o projeto seria arriscado demais, tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental, e a crise de abastecimento na região poderia ter sido ainda mais grave.
A crise hídrica enfrentada por Manaus neste ano é um exemplo claro de como as mudanças climáticas estão pressionando setores críticos, como infraestrutura e logística. Projetos como o do píer flutuante demonstram a importância do mercado segurador como pilar de resiliência econômica e social, tornando-o parceiro indispensável dos setores público e privado na jornada de adaptação climática.
Ao apoiar inovações logísticas e a continuidade de atividades críticas, o seguro possibilita a mitigação de riscos, a proteção das comunidades e a manutenção da economia em movimento. Ele oferece à sociedade a capacidade de enfrentar um futuro incerto com maior segurança, garantindo que, mesmo diante de um mundo instável, a vida continue com o mínimo de interrupções.
Fonte: Portos e Navios