Mercado de carbono pode superar óleo e gás
O mercado de créditos de carbono poderá superar, em movimentação de negócios, o setor de óleo e gás, até 2050. “Em grande parte, tudo será puxado por ações da iniciativa privada”, afirma Plínio Ribeiro, CEO da Biofílica, empresa paulista que desenvolve projetos florestais para geração de créditos. Especialistas acreditam que o avanço dessa indústria alavanque projetos de reflorestamento, ajude a combater o desmatamento e gere maior adesão das empresas às práticas sustentáveis.
De acordo com a consultoria global Refinitiv, o volume de negócios de créditos de carbono chegou a € 229 bilhões (mais de R$ 1 trilhão) em 2020 ou cinco vezes mais que o apurado em 2017. “Esse mercado está se tornado uma maneira importante de cuidar do planeta”, diz Ribeiro. Há dois tipos de mercado de carbono: o voluntário e o regulado, explica. O primeiro é formado por companhias que compensam emissões comprando créditos de quem consegue provar que “tira” carbono da atmosfera, com atividades como reflorestamento ou a troca de uma matriz energética “suja” por alternativas limpas, como a energia solar ou a eólica.
Já o mercado regulado é tocado por países dispostos a normatizar esse comércio – segue regras estabelecidas por governos ou entidades internacionais. “As iniciativas voluntárias tomaram a dianteira no mundo porque as regulamentações governamentais dependem de articulação internacional, sempre mais demorada”, afirma. “E como qualquer outro mercado, este também não espera por definições multilaterais [para crescer].”
Rimac
A Biofílica, com clientes como Bradesco e Suzano, desenvolveu uma “calculadora” de carbono, que ajuda as empresas a descobrirem suas pegadas anuais e neutralizar esse impacto por meio de projetos de conservação de florestas. Fundada em 2008, foi adquirida em julho de 2021 pela Ambipar, que atua na gestão de resíduos ambientais e controle de riscos.
Na opinião de Rebeca Lima, diretora executiva da CDP (Carbon Disclosure Project) Latin America, organização sem fins lucrativos que mede o impacto ambiental de corporações e governos em todo o mundo, as companhias brasileiras estão prontas para fazerem mais compras no mercado de carbono. “Cinquenta por cento dos nossos clientes e 9% dos grupos listados em Bolsa, no Brasil, já fazem parte de algum sistema regulado”, afirma. “E, pelo menos 30% das empresas no país compram ou vendem créditos fora do sistema”. A plataforma global da CDP reúne mais de 8,5 mil grupos que fazem reportes ambientais, sendo mais de mil na América Latina.
Lima chama a atenção também para o esforço das organizações em se tornarem “net zero” – quando não adicionam novas emissões de gases à atmosfera e eliminam as emissões indiretas, geradas por fornecedores e clientes. No Brasil, há 19 companhias comprometidas com esse objetivo e quatro com metas aprovadas, diz. Este mês, a gigante da área de alimentos BRF anunciou o compromisso de se tornar net zero até 2040, priorizando fontes de energia limpa, como a eólica e a solar. Com o uso de fontes limpas, a estimativa da fabricante é obter ganhos de R$ 735 milhões com redução de custos, ao longo de 15 anos.
Fonte: Valor