Petrobras não nega que Graça e Cosenza sabiam de irregularidades

As providências que a Diretoria da Petrobras tomou nas investigações de irregularidades em três áreas da estatal não foram suficientes para impedir o desvio de bilhões de reais da estatal e muito menos para recuperar esse dinheiro. Em nota, a empresa não contestou a informação veiculada pelo Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, de que o atual diretor de Abastecimento, José Carlos Cosenza, e a presidente da Petrobras, Graça Foster, souberam dessas irregularidades por meio de uma sucessão de documentos e e-mails.

A reportagem fez perguntas específicas se Cosenza e Graça foram informados a respeito de irregularidades em contratos na área de comunicação, nos aditivos para as obras na refinaria Abreu e Lima e sobre desvios de dinheiro através de fornecedores de óleo combustível das unidades da Petrobrás no exterior. As perguntas foram encaminhadas por e-mail, às 10h25 de quinta-feira. Às 22h29, a estatal divulgou nota sem citar Graça e Cosenza.

A Petrobras não esclareceu quais providências específicas foram tomadas para recuperar R$ 58 milhões para serviços não realizados na área de comunicação da Diretoria de Abastecimento. A nota diz apenas que “o resultado das análises foi encaminhado às autoridades competentes”.

A Petrobras usou explicação semelhante – o encaminhamento de “relatório final para os órgãos de controle e autoridades competentes” – como resposta sobre os desvios na Refinaria Abreu e Lima. Uma sucessão de aditivos aos contratos da estatal com construtoras levou a uma escalada de preços que elevou de US$ 4 bilhões para mais de US$ 18 bilhões os custos com a refinaria. Em nota, a companhia afirmou que as contratações foram apuradas, mas não esclareceu o que foi feito para recuperar o dinheiro.

A empresa confirmou a informação divulgada pelo Valor PRO de que demorou para demitir o ex-gerente da área de comunicação da Diretoria de Abastecimento, Geovanne de Morais, sob a alegação de que ele esteve em licença médica. Diz a nota da Petrobras: “O ex-gerente da área foi demitido por justa causa em 3 de abril de 2009, por desrespeito aos procedimentos de contratação da companhia. Porém, a demissão não foi efetivada naquela ocasião porque seu contrato de trabalho estava suspenso, em virtude de afastamento por licença médica, vindo a ocorrer em 2013.” Ao todo, Geovanne de Morais pagou quase R$ 38 milhões a serviços não realizados na área de comunicação.

A estatal disse ainda que “aprimorou os procedimentos de compra e venda com a implementação de controles e registros adicionais” nos contratos para a comercialização de combustível para navios, chamados de bunker. “Com base no relatório final, a companhia adotou as providências administrativas e negociais cabíveis”, afirmou. “A Petrobras possui uma área corporativa responsável pelo controle de movimentações e auditoria de perdas de óleo combustível, que não constatou nenhuma não conformidade no período de 2012 a 2014”, completou a estatal.

No entanto, documentos obtidos pelo Valor PRO mostram que os negociadores de bunkers desviaram dinheiro da estatal. Eles compravam bunkers a um preço e revendiam a valores muito maiores para a Petrobras. Um documento diz, em inglês, que há “fortes evidências” de irregularidades. Cosenza e Graça foram informados sobre esses casos em 2014. A estatal não diz quais providências eles tomaram.

Fonte: Valor