Polos navais no Rio Grande do Sul preparam retomada
Número de vagas deve duplicar em relação a partir do próximo mês, quando as operações recuperam ritmo nos três centros do Estado voltados à montagem de plataformas de produção de petróleo
O início dos preparativos para a construção de três plataformas em Rio Grande e São José do Norte, mais a parceria entre as empresas IESA e Andrade Gutierrez, em Charqueadas, afastam o clima de ressaca na indústria naval gaúcha. Com vários estaleiros operando e novas vagas abertas, o número de operários no setor pode duplicar, dos atuais 10,5 mil para mais de 20 mil em 2015 no Estado.
Com a conclusão da plataforma P-58 no estaleiro da QGI (ex-Quip), em dezembro passado, mais de 5 mil trabalhadores perderam o emprego em Rio Grande. As demissões não causaram muito impacto na época, já que a assinatura de novos contratos para fabricação de mais duas plataformas no Estado traria uma nova onda de contratações em poucos meses.
Atrasos na preparação e a demora para a nova convocação ao trabalho, no entanto, geraram clima de incerteza entre os operários. A admissão de 6 mil trabalhadores, antes prevista para abril, deve começar a partir de setembro, quando começar de fato a fase de construção.
No Estaleiro Rio Grande, operado pela Ecovix/Engevix, também em Rio Grande, são cerca de 8 mil operários no momento, entre empregos diretos e indiretos, atuando na fabricação de oito cascos construídos em série – chamados de “replicantes”. O primeiro foi entregue em maio e outros dois já estão em estágio avançado.
Em São José do Norte, a empresa EBR trabalha na implantação da unidade industrial em seu estaleiro. São cerca de 800 profissionais terceirizados atuando na construção do cais, terraplenagem e dragagem. Com a conclusão da construção, o ritmo de produção de módulos para plataformas deve crescer.
– As obras da primeira fase de implantação do estaleiro estão em estágio avançado: 90% concluídas – afirma Luiz Felipe Camargo, gerente comercial e de marketing da EBR.
Em Charqueadas, operários compartilhavam a angústia vivida pelos colegas de Rio Grande. A crise financeira vivida pela Iesa Óleo e Gás levou ao atraso no pagamento de funcionários e deixou os trabalhos no polo do Jacuí em ritmo lento, obrigando a Petrobras a fazer uma intervenção para evitar novos adiamentos na fabricação de módulos. Não houve grande número de demissões, mas o polo opera hoje com apenas um quarto da capacidade. O Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos (Sindimetal) de Charqueadas reclama da alta rotatividade.
— É um entra-e-sai muito grande. A empresa contrata, mas ao mesmo tempo demite muitos. Nesse processo, já são umas 200 vagas a menos — calcula Jorge Luis Silveira de Carvalho, presidente do Sindimetal.
Acordo deve limitar número de demissões
O soldador Wellington Bastos, de 31 anos, foi um dos demitidos no mês de julho. Depois de passar por treinamento e trabalhar por cerca de 60 dias, foi dispensado com outros quatro colegas. Ele diz que pelo menos outros 20 foram demitidos no período que esteve lá.
— Não recebi explicação. A gente ouve que a crise é grande, mas ninguém sabe direito o que está havendo. Ainda nem recebi o dinheiro da rescisão. Quem sabe com a entrada dessa outra empresa, eu consiga meu emprego de volta — relata.
A esperança de Wellington está na chegada da Andrade Gutierrez ao polo do Jacuí, que na semana passada fechou acordo com a Iesa e deve se tornar sócia, salvando contratos que chegavam a US$ 720 milhões para construir módulos destinados a plataformas da Petrobras. Embora confirmada por várias fontes, a associação ainda não recebeu a homologação final da Petrobras, que administra o contrato de fornecimento. É só um procedimento burocrático, mas consolidaria a retomada.
À procura de um quinto estaleiro
Com quatro estaleiros instalados na Metade Sul para construção de plataformas, o governo gaúcho busca agora atrair uma companhia para região especializada em reparo naval. O objetivo é ocupar espaço ainda disponível em São José do Norte e trazer para a costa brasileira navios que hoje procuram o serviço em Lisboa, Dubai, Cingapura e Cabo Verde.
— Não estamos na melhor posição geográfica, mas não temos uma localização ruim. Embarcações que precisam esperar longo período para serem consertadas podem vir para cá. O aumento da frota brasileira também é um estímulo — explica Aloísio Nóbrega, vice-presidente da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI).
Mão de obra já existe. A técnica utilizada para reparo de navios é semelhante à da fabricação de cascos, atividade já desenvolvida na região.
A produção gaúcha
O petróleo é retirado do subsolo em alto-mar (offshore) por meio de plataformas, estruturas com casco capaz de armazenar óleo e gás e módulos que processam esse material e geram energia, por exemplo.
Fonte: Zero HoraCadu CaldasColaborou Luisa Martins