Projeto propõe rastrear cargas perigosas no Porto de Santos

Projeto propõe rastrear cargas perigosas no Porto de Santos

Rastrear eletronicamente cargas consideradas perigosas que embarcam no Porto de Santos é o objetivo de um projeto de pesquisa desenvolvido por um aluno do Campus Baixada Santista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O estudante do curso de Ciências do Mar pretende utilizar a identificação através de radiofrequência (ou RFID, sigla em inglês de Radio Frequency Identification) para monitorar as mercadorias.

Henrique Cardoso Köpke de Vasconcellos está no terceiro ano da graduação e iniciou o projeto há cerca de três meses. Ainda em fase inicial, a pesquisa é uma continuação de outro estudo realizado pelo aluno.

O tema foi proposto após os recentes acidentes envolvendo cargas perigosas no Porto de Santos. Em um deles, em janeiro deste ano, no terminal retroportuário da Localfrio, na Margem Esquerda (Guarujá) do complexo marítimo, os bombeiros tiveram dificuldade para combater o incêndio devido à falta de dados sobre as cargas consumidas pelas chamas. Esta é uma informação que, segundo o estudante da Unifesp, pode ser conhecida através do rastreamento eletrônico dos contêineres.

Qualquer substância que, em condições normais, tenha alguma instabilidade inerente ou que, sozinha ou combinada com outras cargas, possa causar incêndio, explosão ou corrosão de outros materiais, é considerada uma carga perigosa. Mercadorias que sejam suficientemente tóxicas para ameaçar a vida ou a saúde pública, se não forem adequadamente controladas, também entram nessa lista, de acordo com a Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês), que as dividiu em nove classes.

O professor do Campus Baixada Santista da Unifesp Caio Fontana, um dos orientadores da pesquisa, explica que, inicialmente, o projeto será desenvolvido nos limites do Porto de Santos. No entanto, rastrear esses produtos pode garantir uma maior segurança durante todo o trajeto da carga.

“Quando embarca, não existe um controle efetivo. Você não sabe efetivamente quando ela entrou no terminal para embarcar no navio. Então, a gente está estudando uma maneira de fazer isso através de etiquetas, com a qual gente consiga monitorar desde quando ela entrou no Porto, no terminal e quando foi para o navio”, explicou.

Perigo

“Depois que esse assunto do risco das cargas perigosas no Porto de Santos ganhou evidência, entendemos que era interessante usar a tecnologia do RFID para garantir segurança e rastreabilidade”, destacou o estudante Henrique de Vasconcellos .

Segundo o graduando, a ideia é que a carga possa ser rastreada logo após o carregamento em contêineres. Neste momento, a caixa metálica deve receber uma tag, espécie de etiqueta eletrônica, semelhante às utilizadas em praças de pedágio para o pagamento automático da tarifa. A mercadoria passa a ser monitorada a cada passagem por portais de leitura eletrônica.

“Podem ser armazenadas todas as informações da carga, que não podem ficar muito tempo aguardando os procedimentos de embarque. Existem os locais especiais já definidos para que ela não permaneça muito tempo” , explicou Henrique.

Andamento da pesquisa

Nesta fase do projeto, o aluno da Unifesp estuda o modelo tecnológico que melhor se aplica à demanda. Para o professor Cledson Akio Sakurai, que também orienta a pesquisa, esse é um dos maiores desafios. “Como o contêiner é metálico, pode haver uma maior dificuldade de propagação do sinal. Então, essa é uma questão bastante importante de ser avaliada”, explicou.

Após a definição do tipo de tag a ser utilizada, serão estudados os locais onde podem ser implantados os leitores. “Eu acredito que esta pesquisa vai dar bons resultados, já que existe uma legislação que precisa ser cumprida, o que já acontece. Mas, mais do que isso, é preciso que o controle seja automatizado, com o mínimo de interferência humana”, explicou o professor Akio.

Estudo

O projeto de rastreamento de cargas perigosas no Porto de Santos é um desdobramento de um outro estudo realizado pelo aluno da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). No primeiro trabalho, Henrique Cardoso Köpke de Vasconcellos utilizou a tecnologia de radiofrequência (ou RFID, sigla em inglês de Radio Frequency Identification) para monitorar pallets de madeira.

“Foi meu projeto de iniciação científica. A ideia era monitorar, desde a montagem, toda a cadeia de suprimentos e ver como esses pallets eram utilizados até o destino final, que pode ser, por exemplo, um supermercado”, explicou o estudante.

Mais do que rastrear as peças, o projeto visava evitar contaminações, além de avaliar a vida útil dos recipientes e garantir a segurança da carga que estava sendo transportada.

Cargas que chegam ao Porto de Santos em pallets de madeira são fiscalizadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Os fiscais agropecuários são responsáveis por certificar que essas estruturas estão de acordo com as normas fitossanitárias.

“De fato, não existe controle sobre qual peça foi carregada em cada pallet. Podem ter sido transportados fertilizantes e, em seguida, insumos (gêneros alimentícios). É um material bastante reutilizado”, disse Vasconcellos.

O estudante explica que esse projeto também ainda está sendo desenvolvido, mas em uma fase mais avançada do que o de rastreamento de cargas perigosas. “Já fiz o modelo de tecnologia e preciso definir o modelo operacional, ver a cadeia e como isso será aplicado na prática”, disse.

O professor Cledson Akio Sakurai também é um dos orientadores da pesquisa sobre os pallets de madeira. O docente é responsável pelas disciplinas de Sistemas de Informação, Automação e Controle, além de Logística e Programação. “O professor Caio (Fontana) conhece tudo como funciona ou deveria funcionar no ambiente portuário. Já eu fico responsável pela tecnologia que vai ser empregada nos projetos”, explicou Akio.

Fonte: Tribuna online