Romaria fluvial do Círio de Nazaré reúne centenas de embarcações em Belém (PA)

Romaria fluvial do Círio de Nazaré reúne centenas de embarcações em Belém (PA)

Eram 8h da manhã deste sábado (7), quando a imagem de Nossa Senhora de Nazaré alcançou o trapiche (local onde atracam as embarcações) do Distrito de Icoaraci, na capital paraense, de onde, a bordo do Navio Hidroceanográfico (NHo) “Garnier Sampaio”, da Marinha do Brasil (MB), deu-se início à 36ª edição do Círio Fluvial.
A festividade é uma das 14 romarias oficiais do Círio de Nazaré, tradicional evento do calendário religioso e cultural do estado do Pará.
“Para a Marinha, é uma honra e um privilégio transportar a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré até o Porto de Belém. É um evento extraordinário, sob o aspecto da segurança da navegação. Um planejamento bastante minucioso de tudo o que se faz e, ao longo de todos esses anos, não tivemos nenhum incidente. Isso não se deve somente ao cuidado que temos no preparo e na execução, mas atribuo, em boa medida, à proteção do manto sagrado de Nossa Senhora”, reconhece o Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen.
Neste ano, mais de 250 embarcações se inscreveram na Capitania dos Portos da Amazônia Oriental para participar da procissão, em um percurso de 10 milhas náuticas (pouco mais de 18 quilômetros), sobre as águas da Baía de Guajará. O cadastro foi condicionado à inspeção da Autoridade Marítima, que verificou documentação, equipamentos de salvatagem e demais requisitos de segurança.
Motos aquáticas, canoas, barcos pesqueiros e cargueiros, lanchas, iates e ferry boats acompanharam o trajeto, transportando centenas de fiéis e turistas, de vários cantos do País e de diferentes nacionalidades. Milhares de pessoas se concentraram às margens da Baía para assistir à passagem das embarcações, principalmente, do navio onde a imagem sacra era exibida em uma redoma de vidro.
Para compor o aparato logístico e prevenir acidentes aquaviários, a MB mobilizou 300 militares em 20 embarcações, entre motos aquáticas, agências fluviais, lanchas de operações ribeirinhas e navios. Eles estavam responsáveis não apenas pela coordenação do tráfego, como compuseram uma espécie de cordão de isolamento ao redor do navio que transportava a estátua, durante as duas horas de cortejo.
Uma aeronave UH-15 Super Cougar, da MB, também foi destacada para a missão de garantir a segurança dos peregrinos.
A medida evitou manobras de risco e abalroamentos (colisões entre embarcações) que podem ocorrer quando os fiéis tentam se aproximar da imagem sacra durante o percurso até a Estação das Docas, local onde foi iniciada a romaria dos motociclistas. Não houve registro de acidentes fluviais no decorrer do trajeto.
Ao longo do evento, os militares também estiveram focados na verificação da lotação, no uso dos equipamentos obrigatórios, na idade mínima para tripular determinados tipos de embarcação, na presença de materiais explosivos e combustíveis, dentre outros fatores de risco à navegação.
Além do Comandante da Marinha, a bordo do Navio Hidroceanográfico “Garnier Sampaio” estavam o Ministro do Turismo, Celso Sabino, o Governador do Pará, Helder Barbalho, e o Comandante do 4º Distrito Naval, Vice-Almirante Antônio Capistrano de Freitas Filho.
“Em mais uma edição do Círio, cujas procissões são reconhecidas pela UNESCO como Patrimônio Imaterial da Humanidade, a Marinha promove, não somente a segurança da navegação e o transporte da imagem de Nossa Senhora de Nazaré, mas apoia turistas e romeiros que participam dessa que é considerada a maior festa católica do Brasil, movimentando mais de R$ 150 milhões para toda a economia”, destacou o Ministro Celso Sabino.
Uma das maiores festas religiosas do mundo
A tradição católica paraense registra que, em outubro de 1700, o caboclo Plácido José de Souza encontrou, às margens do igarapé Murucutu, na cidade de Belém, no então estado do Grão-Pará e Maranhão, uma imagem de 28 centímetros, feita em madeira, retratando Maria de Nazaré com o menino Jesus nos braços. O ribeirinho levou a imagem para casa, mas, por repetidas vezes, a imagem reaparecia às proximidades do igarapé. Ali foi construída uma capela, marcando o início da devoção popular.
Desde 1793, Belém celebra o Círio de Nazaré durante o mês de outubro, com várias romarias, além de outras programações religiosas e artísticas. A maior procissão reúne dois milhões de fiéis pelas ruas da capital do Pará, no segundo domingo de outubro. O Círio é conhecido popularmente como o “Natal dos paraenses”, tamanha sua relevância cultural.
A imagem original, encontrada por Plácido, permanece guardada na Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré, igreja em estilo neoclássico, inaugurada em 1909, construída no local onde Plácido a encontrou.
NHo “Garnier Sampaio”
O NHo “Garnier Sampaio” participa da romaria fluvial do Círio de Nazaré desde 1999. Anteriormente denominado Navio Varredor “HMS Ribble”, da Marinha Real Britânica, foi adquirido pela Marinha do Brasil devido à necessidade de possuir um navio balizador de alto-mar para emprego na manutenção de sinais flutuantes de grande porte.
Subordinado ao Centro de Hidrografia e Navegação do Norte, Organização Militar do Comando do 4º Distrito Naval, com sede em Belém, o NHo “Garnier Sampaio” tem 47,6 metros de comprimento, 10,5m de boca (largura) e 3,1m de calado (distância entre a quilha e a linha d’água). Sua tripulação é composta por 35 militares.
Foi incorporado à Armada brasileira no dia 31 de janeiro de 1995, em Portsmouth, Inglaterra. O nome homenageia o oficial submarinista Vice-Almirante Hélio Garnier Sampaio.

Fonte: Agência Marinha de Notícias