Saúde: Zika e chicungunha estão entre os vírus prioritários para a OMS

Saúde: Zika e chicungunha estão entre os vírus prioritários para a OMS

Rio tem 1.223 novas notificações de dengue só este mês

Os vírus zika e chicungunha estão no triste ranking dos micro-organismos emergentes prioritários para a pesquisa elaborada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e divulgada esta semana. Eles foram selecionados devido à sua capacidade de causar epidemias graves no mundo e à falta de conhecimento sobre eles. Todos os micro-organismos da lista são vírus.

Foram notificados 1.223 novos casos de pacientes com suspeita de dengue no Estado do Rio entre os dias 8 e 14 deste mês. Desde 1º de janeiro deste ano, já são 63.730 notificações. Os dados foram divulgados ontem pela Secretaria estadual de Saúde. De acordo com a pasta, o número de mortes registradas em decorrência da doença continua sendo 20. Resende é a cidade com mais casos. Lá, foram oito mortos. Campos dos Goytacazes, Paraty e Porto Real registraram dois óbitos cada. Já Barra Mansa, Itatiaia, Miracema, Piraí, Quatis e Volta Redonda tiveram, cada uma, uma morte por causa da dengue.

Alta taxa de letalidade

Especialista em poxvírus, da mesma família da varíola, a virologista Clarissa Damaso, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destaca que não é mais possível negligenciar doenças infecciosas graves, por mais remotas ou raras que elas pareçam. A OMS lista ebola, Marburg (muito semelhante ao ebola), síndrome respiratória aguda severa (SARS), síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS), febre de Nipah, febre de Lassa, febre do Vale do Rift e febre hemorrágica do Congo-Crimeia como as oito mais perigosas, devido à elevada taxa de letalidade.

Ela ainda relaciona outras doenças como sérias, por causarem complicações graves e serem pouco conhecidas, como chicungunha, zika e febre severa com síndrome de trombocitopenia (causada pelo vírus SFTSV, um Phlebovírus). Todos esses micro-organismos foram escolhidos porque, segundo informa boletim da OMS, “é provável que provoquem surtos graves num futuro próximo, e porque pouco ou nenhum tratamento existe”. A lista será atualizada a cada ano, e o objetivo do órgão é estimular a pesquisa de diagnósticos, vacinas, tratamentos e medidas de controle para essas doenças.

— Em comum, essas doenças têm a origem na África ou na Ásia e, por isso, não receberam a devida atenção de grandes centros de pesquisa. Eram tidas como remotas demais e foram tristemente negligenciadas. É só ver o sofrimento que o ebola tem causado na África. Mas vírus desconhecem fronteiras e estão em constante transformação — destaca a pesquisadora, que integra o comitê da OMS de controle dos últimos estoques de varíola (a única doença erradicada no mundo) e faz estudos de biodefesa no brasil.

Falta de verba preocupa

Ela se preocupa com a falta de recursos para pesquisa no país:

— Vínhamos recebendo recursos importantes da Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio), fundamentais para levar nossos estudos sobre vírus adiante aqui no Rio. Estamos alarmados com a crise financeira do estado.

Segundo ela, o CNPq agora paga apenas bolsas. Acabou o dinheiro para estudos:

— Neste momento falta ao Brasil dinheiro para investigar e controlar doenças e nos sobram mosquitos — observa.

Clarissa lembra que, se não houvesse investimento no estudo da dengue, hoje o país estaria ainda mais despreparado para enfrentar o zika.

Fonte: O Globo / Ana Lúcia Azevedo