Setor naval cresce 19,5% ao ano desde 2000

Setor naval cresce 19,5% ao ano desde 2000

Seis navios e três comboios hidroviários construídos por estaleiros nacionais passarão a fazer parte da frota da Transpetro até dezembro, tornando 2014 um ano de recorde na entrega de embarcações previstas na carteira de encomendas da indústria naval do Brasil, a quarta maior do mundo na categoria de navios em geral e a terceira em número de petroleiros, segundo a Petrobras.

Entre 2012 e 2020, as encomendas englobam 22 plataformas de produção de petróleo, 146 navios offshore, 26 petroleiros, 29 sondas de perfuração, cinco submarinos, dois navios graneleiros e sete porta-contêineres, só para citar alguns exemplos mencionados em palestra do coordenador de Infraestrutura Econômica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos Campos Neto, no painel “Investimentos em Petróleo e o Impacto da Indústria Naval” do L.E.T.S., evento promovido semana passada pelas federações de indústrias estaduais de São Paulo e Rio de Janeiro (Fiesp/Firjan).

O balanço faz parte de um livro sobre o ressurgimento da indústria naval brasileira que o Ipea deve lançar até julho. Conforme o levantamento, os investimentos no setor somam R$ 149,5 bilhões. Em um período de dez anos a partir de 2000, quando estava praticamente sucateada, a indústria naval brasileira avançou na média de 19,5% ao ano, mostra o estudo.

“Esta retomada é basicamente consequência do desenvolvimento das encomendas da Petrobras e da produção offshore”, afirma Campos Neto, um dos organizadores do livro, intitulado “Soerguimento da Indústria Naval no Brasil – 2000-2013”, junto com o técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea, Fabiano Pompermayer.

Ao todo, a carteira reúne 404 encomendas, com a maior parte dos investimentos para a produção de sondas de perfuração – R$ 54 bilhões da parceria Petrobras/ Sete Brasil – e plataformas – R$ 53,4 bilhões da estatal para plataformas. Campos Neto destacou que a Petrobras deve fazer uma contratação adicional de 15 plataformas até 2017, com o desembolso de mais R$ 36,75 bilhões, e as estimativas de especialistas apontam para a necessidade de mais 12 a 15 plataformas, a partir de 2020, para a exploração do Campo de Libra – a construção de 13 plataformas, segundo o estudo, custaria R$ 31,85 bilhões.

Pompermayer participou do painel abordando a questão da indústria de navipeças, cujas receitas tiveram crescimento médio anual de 6,1% entre 2000 e 2010, ficando bem abaixo da média da indústria naval como um todo (19,5%). Quando considerados apenas os segmentos cuja produção é mais ligada ao setor naval, mas também fornece os equipamentos para outros setores (navipeças restrito), o aumento é de 5,3%, em média, e supera a taxa média de seus respectivos setores, que aponta expansão de 3,3% no período. “Podemos concluir que o setor de navipeças têm tido um desempenho muito bom, mas ainda não está conectado ao crescimento da indústria naval”, afirma Pompermayer.

As constatações têm por base uma pesquisa feita para o livro com 734 empresas que fazem parte do catálogo de navipeças da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip). Neste trabalho, o Ipea enviou um questionário para uma enquete, recebendo respostas de 98 empresas.

Segundo os entrevistados, 75,6% veem boas perspectivas para navipeças nos próximos anos, com 51,2% confirmando planos de investimentos para ampliar a capacidade operacional. Em uma relação de dez programas públicos de incentivo a inovação e investimentos, 54,4% alegaram desconhecer os benefícios e apenas 8,1% já utilizaram os recursos. Entre os entraves ao desenvolvimento do setor, os empresários consideram a carga tributária o pior de todos (82,5%), seguida pela regulação trabalhista (60,6%).

“Temos a sorte de ter petróleo de pré-sal, mas não tanta sorte, já que é um petróleo complicadíssimo de retirar, exigindo um dos sistemas mais complexos e caros do mundo. Nesse contexto, fica evidente que precisamos ter um sistema de fornecimento de peças e serviços eficientes dentro do país”, afirmou Carlos Padovezi, diretor de Operações e Negócios do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).

Para Padovezi, é necessário que a indústria tenha continuidade de demanda local e a perspectiva de atuar no mercado exportador, buscando competitividade a partir do desenvolvimento tecnológico em produtos e processos, qualificação de recursos humanos e gestão, e planejamento para reduzir os custos de produção.

Materiais, peças e equipamentos compõem 65% dos custos da indústria, mão de obra é responsável por 20% e custos complementares, por 15%. “A preocupação é se os novos estaleiros ou que estão vindo para o país conseguirão sobreviver após este pico de demanda provocado pelas necessidades das plataformas que a Petrobras está construindo. A impressão que é que muitos destes estaleiros não terão condições de continuar em médio ou longo prazo.”

Fonte: Valor Econômico/Maria Alice Rosa | Para o Valor, de São Paulo