Wilson, Sons chega ao Novo Mercado na busca por liquidez

Wilson, Sons chega ao Novo Mercado na busca por liquidez

As ações da Wilson, Sons, operadora integrada de serviços marítimos, portuários e de logística, começaram a ser negociadas nesta segunda (25) no Novo Mercado da B3. A entrada dos papéis da empresa, sob o código PORT3, no nível mais alto de governança da bolsa foi possível depois que os acionistas aprovaram, na sexta-feira (22), a incorporação da Wilson Sons Limited (WSL), sediada nas Bermudas, pela Wilson Sons Holdings Brasil. Com quórum de 82% na assembleia, a pauta foi aprovada com 100% dos votos.

Anunciada em maio, a operação simplifica a estrutura societária da empresa, que até então negociava Brazilian Deporitary Receipts (BDRs) emitidos pela WSL. A mudança, sem aporte financeiro e com relação de troca de ações de 1 para 1 não modifica a estrutura de capital e a companhia continuará controlada pelo Grupo Ocean Wilsons, com 57% dos papéis, enquanto o free float será de 43%.

O presidente da Wilson, Sons, Fernando Salek, afirma que a incorporação e a listagem no Novo Mercado deverão aumentar a liquidez do papel da companhia na bolsa, assim como reduzir o desconto com que a ação vinha sendo negociada. Segundo ele, a empresa não acessava uma fatia relevante do universo de potenciais investidores, como fundos de pensão e alguns fundos mútuos, que têm restrição para aplicarem em BDRs. Além disso, a operadora logística também ficava de fora da carteira de investidores que aplicam apenas em papéis com determinado patamar de liquidez. “A gente tinha uma liquidez muito baixa e o que aconteceu ao longo do tempo é que, pelas limitações do instrumento [BDRs], o desconto da ação em relação ao valor que nós acreditamos ser o valor intrínseco dos nossos ativos passou a ser muito grande. Esse era um desconforto grande”, diz Salek. “Agora, passamos a acessar esse universo de investidores que não acessávamos antes.”

O executivo diz que a partir de maio, quando foi feito o anúncio da operação, as BDRs da empresa tiveram valorização de 21%, adicionando R$ 820 milhões ao valor de mercado da companhia, que passou de R$ 3,9 bilhões para R$ 4,7 bilhões. “Experimentamos uma correção de valor só com o anúncio. E ainda não acessamos o ‘pool’ de investidores que eu gostaria de acessar e que acho que vão ser fundamentais para essa correção de valor”, frisa Salek. Um segundo benefício esperado pela empresa com a migração para o Novo Mercado é ganhar a chancela do nível mais alto de governança da bolsa brasileira. Para Salek, a companhia passa a ter acesso ao mercado de capitais, de dívida e de equity, que não tinha antes. “Acreditamos que com isso ganhamos valorização, eliminando uma distorção que vinha através desse gargalo, gerando valor imediato para os acionistas”, diz. Ele também não mostra apreensão pela operação ser feita num momento de crise no mercado brasileiro, com origem política. Para Salek, a robustez da operação vai garantir ganhos para a empresa no longo prazo. “Nós não vivemos numa ilha. Estamos e estaremos cada vez mais sujeitos ao humor do mercado. Mas estamos falando de uma correção estrutural e de uma empresa que tem comprometimento com o Brasil de longo prazo”, afirma. “Já passamos por todos os ciclos econômicos que você possa imaginar. O nosso horizonte é um horizonte mais longo. Isso de alguma forma minimiza o impacto conjuntural desse momento específico”, acrescenta, lembrando que a Wilson, Sons foi fundada em 1837.

A companhia atua com dois terminais portuários de contêineres – em Rio Grande (RS) e Salvador -, tem um estaleiro no Guarujá (SP), 80 rebocadores portuários e 23 embarcações de apoio offshore, além de um negócio de logística terrestre em Santo André (SP). Atualmente, a principal receita vem dos negócios de rebocagem e dos terminais de contêineres. Em Salvador, a companhia terminou recentemente uma expansão do terminal, com investimentos de pouco mais de R$ 500 milhões.

Salek diz que durante a pandemia, a empresa “sofreu como todo mundo”, mas manteve resultado “saudável”, sendo que em 2021 está registrando resultado acima dos obtidos no ano passado. Nos primeiros seis meses do ano, a receita líquida da Wilson, Sons subiu 19,1% frente a igual período de 2020, de R$ 854 milhões para R$ 1,017 bilhão. Já o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) avançou 35,1% na mesma comparação, de R$ 333 milhões para R$ 450 milhões. “Nosso resultado tem característica bem resiliente. Sofremos como todo mundo, mas mantivemos um resultado saudável durante o período da pandemia e em 2021 tivemos performance bem superior ao mesmo período do ano anterior”, diz. Os resultados são citados por Salek ao citar a resiliência da empresa mesmo em meio a uma crise logística global, com efeitos nas cadeias de suprimentos. “A expectativa é que isso [a crise no setor] ainda entre no início do ano que vem. Mas temos conseguido manter o resultado bem saudável.”

Fonte: Valor