
Comissão “Pro Amazônia Azul I” identificou relevos submarinos no litoral do Nordeste brasileiro
Apesar dos oceanos e mares cobrirem 71% do planeta, a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que menos de 5% dessa massa de água seja efetivamente explorada e conhecida cientificamente. Com base nessa informação, o Brasil comprometeu-se com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para a execução do programa da Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, que deve ser implementado até 2030.
Neste contexto, a Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM) realiza a ação “Pro Amazônia Azul”, que executa pesquisas oceanográficas com o propósito de promover o conhecimento científico, a conservação e o aproveitamento sustentável dessa área oceânica, sob a ótica da economia azul.
Este ano, a tripulação do Navio Hidroceanográfico (NHo) “Cruzeiro do Sul” realizou a comissão “Pro Amazônia Azul I” no litoral dos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe e Bahia, para fazer levantamentos hidrográficos em apoio ao Serviço Geológico Brasileiro, à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), à Universidade Federal do Ceará e ao instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá que participaram com 18 pesquisadores. As atividades desenvolvidas caracterizaram os relevos submarinos, conforme previsto no Plano de Trabalho de Hidrografia da Diretoria de Hidrografia e Navegação (PTHidro).
Além disso, esses estudos nas regiões ainda carentes de dados hidroceanográficos contribuem com os diversos setores de exploração de recursos marinhos e indústrias offshore (eólica, petrolífera, pesqueira, entre outras), colaborando com a soberania nacional.
Parceria científica
As parcerias entre instituições e universidades possibilitam o embarque de pesquisadores, professores e alunos, contribuindo com o apoio à pesquisa e à comunidade científica, por parte da Marinha do Brasil (MB). O intercâmbio de conhecimentos com o setor acadêmico permite uma sinergia entre os diversos setores envolvidos com a pesquisa nas águas jurisdicionais brasileiras.
Segundo o Comandante do NHo “Cruzeiro do Sul”, Capitão de Fragata Claudio Luiz Pereira Batista, a operação dos equipamentos hidroceanográficos é complexa, fazendo com que seja imprescindível a presença de militares especializados. “O tempo necessário para executar a sondagem de áreas extensas exige que a tripulação permaneça operando por até 17 dias consecutivos, afastada de costa, e, por vezes, sob condições meteorológicas desfavoráveis, o que exige uma tripulação altamente adestrada”, explicou.
Para a professora Narelle Maia de Almeida, do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Ceará, grande parte das instituições de pesquisas e universidades brasileiras não possuem embarcações para a realização de pesquisas no oceano, e, por isso, a parceria entre as instituições e a MB é essencial. “Diversos projetos já foram e continuam sendo desenvolvidos conjuntamente, os quais contribuem ativamente na ampliação considerável do conhecimento da margem continental brasileira e do Atlântico Sul, em seus vários aspectos: científicos, acadêmicos, estratégicos, de soberania nacional, de gestão ambiental, de divulgação e de formação de recursos humanos”, destacou a professora.
Um exemplo de ação desempenhada na comissão “Pro Amazônia Azul I” foi a coleta de dados batimétricos, que é a medição de profundidade em um determinado local, em algumas áreas próximas ao litoral do Rio Grande do Norte que eram praticamente inexistentes. Com isso, a ação conjunta da comissão possibilitou a caracterização de cânions submarinos e uma melhor descrição de fundo marinho da Bacia Potiguar.
A professora Helenice Vital, do Departamento de Geologia da UFRN e coordenadora dos Projetos SeabedMap, Geohazards e Tectônica, explicou que estes dados coletados no litoral do Rio Grande do Norte auxiliarão a minimizar uma grande lacuna no campo da oceanografia geológica e geologia marinha brasileira, através do Mapeamento Geológico da Margem Equatorial Brasileira. “Diversos cânions submarinos nunca antes conhecidos foram mapeados detalhadamente. Imagens deslumbrantes foram adquiridas e a partir dos produtos poderão ser gerados mapas precisos e minuciosos que auxiliarão no Planejamento Espacial Marinho da região e no desenvolvimento de uma economia azul sustentável”, explicou.
Os levantamentos hidroceanográficos, do ponto de vista nacional, são importantes não apenas cientificamente, mas também estrategicamente e para a soberania da nação.“Conhecer a Amazônia Azul promove informações concretas para a implantação de relevantes políticas públicas, para a gestão eficiente dos recursos naturais das zonas costeira e oceânica do País, bem como supre dados para o Banco Nacional de Dados Oceanográficos e, consequentemente, para a Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais Marinhos”, conclui o Capitão de Fragata Claudio.
Fonte: Defesa em Foco